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Setembro Amarelo: pandemia de Covid-19 pode subir fatores de risco para suicídio

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Brasília – DF 10/9/2021 – O fim do preconceito e campanhas de prevenção como a do Setembro Amarelo, que informam e desmistificam, são fundamentais na prevenção ao suicídio

De acordo com dados divulgados pela ABP no âmbito da campanha do Setembro Amarelo deste ano, cerca de 96,8% dos casos de suicídio no Brasil estão relacionados a transtornos mentais, além do abuso drogas

O impacto na saúde mental da população decorrente da pandemia de Covid-19, de acordo com especialistas da OMS (Organização Mundial da Saúde), ainda será sentido por um bom tempo, potencializando os casos de depressão, ansiedade e estresse em todo o mundo. 

Chamada “quarta onda” da doença por profissionais da entidade, os desdobramentos mentais decorrentes do isolamento social também são fatores de risco para o suicídio, cuja campanha de prevenção, o Setembro Amarelo, acontece no Brasil anualmente, sendo organizada pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) em parceria com o CFM (Conselho Federal de Medicina). 

De acordo com dados divulgados pela ABP no âmbito da campanha do Setembro Amarelo deste ano, cerca de 96,8% dos casos de suicídio no Brasil estão relacionados a transtornos mentais, além do abuso de drogas. Tal relação gera uma preocupação extra em na sociedade como um todo, visto que dados recentes sobre o aumento de casos de depressão e ansiedade em diversos países podem estar relacionados com o impacto da atual crise sanitária na vida cotidiana da população.

Em dezembro do ano passado, por exemplo, uma pesquisa realizada pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos com 800 mil pessoas indicou que 42% delas tiveram sintomas de ansiedade ou depressão em 2020, um aumento de 200% em relação ao ano anterior. 

Outro estudo, conduzido pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e publicado em agosto de 2020 no periódico científico The Lancet, apontou um aumento de 90% nos casos de depressão no Brasil durante os primeiros meses da atual pandemia – o número de pessoas com crise de ansiedade e estresse agudo, segundo a análise, praticamente dobrou entre março e abril de 2020. 

Ainda avaliando um contexto local, por fim, uma pesquisa feita pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) nos meses de maio, junho e julho de 2020 deu conta de que 80% da população brasileira tornou-se mais ansiosa naqueles primeiros meses da pandemia do novo coronavírus.

Isolamento e limitação ao acesso a tratamentos podem aumentar casos de depressão

Para o médico Tiago Damaceno, que atua na Clínica Estância Resiliência, em Brasília, os protocolos sanitários e o isolamento social necessários como medidas de controle e o temor causado pelo contexto pandêmico, indiretamente, limitaram ou causaram interrupção de alguns serviços de cuidado em saúde mental, e podem ser encarados como fatores de agravamento da depressão e de aumento no risco de suicídio. 

“Observamos um aumento nas internações de pacientes com piora do quadro por falta de suporte profissional adequado e interações sociais”, afirma o Dr. Tiago. “Além disso, é importante ressaltar que interações sociais saudáveis são determinantes no processo de reabilitação e podem fazer toda a diferença àqueles que sofrem de algum transtorno emocional”, completa. 

A prevenção do suicídio, prossegue o médico da Clínica Estância Resiliência, pode ocorrer mesmo em contextos de distanciamento social, a telemedicina e o teleatendimento hoje regulamentado pelos órgãos fiscalizadores, além de uma observação cuidadosa de mudanças de comportamento que “podem significar uma condição de sofrimento emocional” indicativa de que “seja a hora de buscar um profissional especializado”. 

Ele aponta alguns indícios como o isolamento além do imposto pela pandemia, o desinteresse por atividades antes prazerosas, a apatia, a irritabilidade, a falta ou o excesso de sono e a tristeza recorrente como cenários que “devem ser observados com atenção por familiares, amigos e colegas de trabalho”.

Quase 5% da população brasileira já cogitou pôr fim à vida

O médico ressalta que a falta de suporte social é um fator de risco ao suicídio reconhecido pela OMS (Organização Mundial da Saúde), sendo a ocorrência de casos de suicídio maior em famílias pequenas e em pessoas solteiras. Segundo um estudo recente da Unicamp, 17% dos brasileiros, em algum momento, cogitaram praticar o suicídio, sendo que 4,8% destes chegaram a elaborar um plano para isso. Muitos, porém, foram além: de acordo com dados compilados pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram registrados no Brasil 12.895 suicídios no Brasil em 2020.

De acordo com o Dr. Tiago, é importante que a sociedade tenha a clareza de que os transtornos mentais, como a depressão e a ansiedade, são doenças e que devem ser tratadas de forma profissional, longe de estigmas. “O fim do preconceito e as campanhas de prevenção como a do Setembro Amarelo, que informam e desmistificam, são fundamentais, bem como a escuta profissional ou qualificada feitas por profissionais e entidades de apoio como o Centro de Valorização à Vida, que desempenham um papel importante na recuperação destes pacientes”, conclui.

Fundado em 1962, em São Paulo, o CVV (Centro de Valorização da Vida) é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, que presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio – a instituição participou da força tarefa que elaborou a Política Nacional de Prevenção do Suicídio, do Ministério da Saúde, com quem mantém, desde 2015, um termo de cooperação para a implantação de uma linha gratuita nacional de prevenção do suicídio com o 188.

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