Mercado chinês fraco traz risco para frigoríficos brasileiros

Queda da importação de carne pelo país asiático impacta Brasil

2.019

As importações de carne bovina da China estão em declínio com a desaceleração do consumo e ampla oferta interna, um revés para seu maior fornecedor, o Brasil.

Dados oficiais mostram que o valor das importações totais de carne bovina da China caiu no ano passado pela primeira vez desde pelo menos 2016, com os preços no nível mais baixo em quase três anos.

Os volumes de importação deverão cair 4% este ano, encerrando 12 anos consecutivos de ascensão meteórica, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.

A situação realça os riscos de se depender fortemente de um único cliente: a China foi o destino de mais de 52% das vendas de carne bovina do país no ano passado, mesmo depois de suspender as compras por cerca de dois meses por conta de um caso de doença da vaca louca. Embora os frigoríficos brasileiros tenham procurado diversificar suas exportações, as alternativas são limitadas.

“O Brasil depende muito da China. Se a China der um soluço, o efeito é muito ruim para o Brasil”, disse Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos.

O que esperar?

A enorme exposição à China afetou os lucros dos frigoríficos. A Minerva (BEEF3), maior fornecedora de carne bovina da América do Sul, teve uma queda de receita de exportação de quase 18% em 2023. A Marfrig (MRFG3) teve um declínio de quase 26%.

A participação da China no comércio global de carne despencou desde o pico de 2020, após um aumento da oferta interna de carne. O país deverá produzir 7,7 milhões de toneladas de carne bovina este ano, um aumento de 1 milhão de toneladas em relação a 2020, de acordo com as estimativas dos EUA. Além disso, uma desaceleração econômica levou os consumidores a procurar proteínas mais baratas.

“Os produtores locais estão desistindo da criação de gado e fazendo um abate massivo de fêmeas”, disse Fernando Galletti de Queiroz, CEO da Minerva, em teleconferência com analistas no mês passado.

O aumento da concorrência da Austrália também pressiona o valor que os importadores chineses estão dispostos a pagar, disse o CEO da JBS, Gilberto Tomazoni, em teleconferência de resultados.

No entanto, a maioria dos analistas prevê que a retração na China será temporária e que o país asiático continuará a ser um grande motor de crescimento para os exportadores de carne bovina brasileiros, uma vez que os níveis de consumo per capita ainda estão abaixo da média global.

A China pode até se tornar mais relevante nos próximos anos, depois que o país liberou no mês passado mais 24 unidades brasileiras para exportação de carne bovina. A JBS (JBS3), maior fornecedora do mundo, disse na sexta-feira que em breve dobrará a capacidade de uma de suas maiores plantas no país após as novas habilitações.

O aumento do número de instalações aprovadas significa “um avanço gigantesco para o agronegócio brasileiro”, disse Tomazoni na sexta-feira, durante cerimônia para comemorar o primeiro embarque de carne bovina para a China da unidade da empresa em Campo Grande.

Com as aprovações, o Brasil poderá ver sua participação nas importações de carne bovina da China subir para até 60% em alguns anos”, segundo João Otávio Figueiredo, chefe de pecuária na Datagro.

O setor pecuário brasileiro vem buscando mais clientes para seus produtos, em um esforço de diversificação. O governo abriu novos mercados para a carne bovina brasileira no México e Singapura. Mas o potencial de expansão ainda é mínimo em comparação com o mercado gigante da China.

“A China é um grande parceiro comercial do Brasil e continuará sendo por muito tempo”, disse Alcides Torres, fundador da Scot Consultoria. “Aumentamos nossas exportações para outros destinos, mas não o suficiente para substituir os chineses.”

 

Fonte: InvestNews

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