O que esperar do Ibovespa em agosto?
Queda do juros nos Estados Unidos tende a criar fluxo de capital para Bolsa brasileira, mas cenário local continua em evidência
O Ibovespa subiu 3,09% em julho, com ajuda, principalmente, de fatores externos e do fato de as ações da Bolsa brasileira estarem, na comparação com a média histórica, “baratas”. Para agosto, investidores dizem que continuarão monitorando de perto o que acontece no exterior, mas também terão uma atenção extra para o cenário interno.
Na última quarta-feira, o Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto), nos Estados Unidos, trouxe notícias vistas como positivas para o mercado. O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, sinalizou que a instituição pode, em setembro, cortar a taxa básica de juros na maior economia do mundo — apesar de ter mantido ela inalterada, entre 5,25% e 5,50%.
“Mais importante do que qualquer gatilho interno, para a Bolsa brasileira, é o gatilho externo. É aquilo que vai acontecer na economia americana. Temos de ver se os EUA vão de fato caminhar para um corte de juros nos Estados Unidos em setembro”, afirma Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “Isso pode ajudar muito a bolsa brasileira”.
Sempre que os Estados Unidos diminuem seus juros, cria-se um fluxo de investimentos, principalmente para países emergentes como o Brasil. Nesse cenário, investidores tiram dinheiro dos títulos públicos americanos, bem como de outros papéis da renda fixa do país, e passam a assumir mais risco.
Juros nos EUA nos holofotes
Em julho, os yields (rendimento dos títulos públicos dos EUA) já caíram, por conta de dados econômicos mais fracos, sinalizando um desaquecimento, e falas de dirigentes do Fed. Com isso, houve fluxo positivo para a Bolsa brasileira, após um primeiro semestre inteiro de saída.
“O mercado aguardava uma sinalização positiva do Fed em relação a um possível corte de juros em setembro, o que, nas análises, poderia aliviar os DI’s [contratos de juros futuros brasileiros] e direcionar o fluxo estrangeiro para emergentes, com o Brasil sendo um dos maiores beneficiários”, diz Pedro Moreira, sócio e assessor da One Investimentos.
O próprio recuo dos juros nos Estados Unidos abre a oportunidade para os juros caírem também no Brasil. Quando a maior economia do mundo paga menos, países podem diminuir suas taxas, já que os títulos norte-americanos servem como referencial.
“Se os sinais da economia americana durante o mês de agosto vierem bons e o corte de juros acontecer em setembro, a gente pode ter um bom mês para a Bolsa brasileira. Que sinais seriam esses? Inflação caindo, mercado de trabalho mais fraco, indicadores de atividade desacelerando”, contextualiza Gala.
Riscos locais podem pesar no Ibovespa
Apesar de a queda dos juros nos Estados Unidos tender a ajudar a Bolsa brasileira, porém, fatores internos são vistos como podendo minguar os ânimos.
A situação fiscal do Brasil, por exemplo, pode impedir que os juros locais caiam. “O mercado vai continuar acompanhando o governo para ver quais os sinais que ele dará sobre o contingenciamento, para ver se ele vai, de fato, cumprir o arcabouço fiscal”, acrescenta Gala.
Se a situação das contas públicas brasileiras piorar, é esperado que o Banco Central nacional não consiga cortar mais a Selic. Investidores, quando o fiscal vai mal, cobram taxas maiores para emprestar dinheiro para o Governo brasileiro.
E a partir daí, juros mais altos acabam minguando o fluxo de investimentos para a Bolsa, com locais mantendo aportes na renda fixa. Fora isso, DIs em patamares elevados também acabam interferindo no valuation das companhias, que faturam menos e gastam mais com dívidas.
“Podemos ter novos contingenciamentos, já que o presidente Lula deu um indicativo positivo de que sempre que for necessário, irá realizar cortes de gastos, aliviando as incertezas fiscais. Isso beneficia ativos de risco frente à renda fixa”, avalia Moreira, da One. “O cenário negativo seria uma mudança do arcabouço fiscal, mas é um cenário improvável até então”, conclui.
Fonte: InfoMoney