Ao mesmo tempo em que a pandemia de coronavírus acelerou a transformação digital das empresas, a automação implantada nas operações podem significar um grande risco ao futuro dos trabalhadores. Isso porque existe um temor de que a substituição da mão de obra humana por máquinas já esteja em curso, principalmente, após o surgimento da Covid-19 no ano passado.
Provas não faltam. Por conta das dificuldades de encontrar trabalhadores suficientes diante da pandemia, Chuck Cooper, CEO da Lee’s Famous Recipe Chicken — uma rede de fast food americana —, decidiu instalar um sistema de voz automatizado em diversos estabelecimentos para receber os pedidos.
E os resultados têm sido positivos. De acordo com o executivo, a implementação foi responsável por impulsionar as vendas, já que não há mais necessidade de uma pessoa para anotar os pedidos na janela do drive-thru. “Ele [sistema] também nunca liga dizendo que está doente”, brincou Cooper.
Em abril deste ano, por exemplo, a rede de fast food 100% robotizada da Bionicook chegou em São Paulo, com a instalação de sua loja no Aeroporto Internacional de Guarulhos. Todo o processo é feito pelo robô, desde o recebimento do pedido até a entrega ao cliente.
Na verdade, estes são apenas alguns exemplos de automações que tornaram-se importantes em tempos de pandemia do coronavírus — que culminou no afastamento de diversos profissionais por conta do distanciamento social.
O movimento tem sido seguido por indústrias alimentícias (com câmeras baseadas em inteligência artificial para detectar possíveis contaminações nas comidas), pelo segmento de hospedagem (com reservas totalmente digitais) e, principalmente, no setor de e-commerce, com a criação de chatbots e canais de atendimento online.
Mas com a adoção de algoritmos e máquinas baseadas em IA e machine learning, há um certo receio pelo mercado de trabalho de que novas vagas de emprego passem a ser ocupadas por robôs, fator que agravaria a situação de desemprego em diversas regiões no mundo todo.
Automação acelerada pela pandemia
Na verdade, especialistas afirmam que o processo de automação já havia sido iniciado antes mesmo da pandemia de coronavírus. O próprio McDonald’s já investia em ferramentas como quiosques e máquinas automatizadas antes mesmo de 2020.
No entanto, a pandemia de coronavírus foi crucial para a aceleração da transformação digital. “Durante o curso da pandemia, mais operadores aumentaram seus investimentos em tecnologia”, afirmou Hudson Riehle, vice-presidente sênior da National Restaurant Association.
Mas de acordo com Daron Acemoglu, economista do MIT, todo esse processo reflete uma tendência de mercado oriunda de crises. “A automação ocorre mais rápido durante as recessões e costuma ser mais incorporada posteriormente”, disse.
O problema é que a automação deveria atuar como uma tecnologia auxiliar à mão de obra humana, e não como uma reserva equivalente. Inclusive, um artigo recém-divulgado por David Deming, economista político pela Harvard Kennedy School, detectou que os empregos de tomada de decisão nos últimos 50 anos nos Estados Unidos, têm sido os mais valorizados.
A lógica é simples: embora a automação possa substituir trabalhos rotineiros, a consciência humana ainda não chegou efetivamente às máquinas. Por isso, os salários de cargos como gestores de negócios têm subido nos últimos anos. Mas até estes podem ser ameaçados com o avanço da inteligência artificial dos robôs.
“Algumas empresas provavelmente verão a tecnologia como um substituto para trabalhadores reais que queiram se restabelecer rapidamente”, pontuou Sam Ransbotham, professor do Boston College e que tem estudado a adoção corporativa da IA durante a pandemia.
Mulheres são as mais afetadas
Para piorar a situação, os efeitos da automação durante (e no pós) o cenário pandêmico têm sido sentidos de forma desigual. Em junho do ano passado, os economistas Casey Warman, da Universidade Dalhousie, e Alex Chernoff, do Bank of Canada, analisaram dados de empregos do O*Net, que reúne informações do Departamento de Trabalho dos EUA.
Eles descobriram que as funções de alto risco por conta da pandemia de Covid-19 estão mais sujeitas às automações, mas principalmente, os cargos ocupados por mulheres com menos escolaridade.
Warman disse que ainda não está claro como a pandemia está afetando os empregos, mas dados recentes têm explicitado que as mulheres continuam sendo as mais afetadas.
“Não deixa de ser consistente com a nossa descoberta de que as mulheres são mais propensas do que os homens a perder empregos devido à automação durante a pandemia de Covid-19”, completou.
Fonte: Olhar Digital