Antônio Lavareda comenta a Pesquisa IPESPE de Avaliação Presidencial e Eleição 2022

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O ano foi problemático para o governo. A intersecção da economia com a pandemia infletiu fortemente sua avaliação na opinião pública. Ela termina estabilizada em um patamar negativo elevado. O ruim/péssimo é de 54% segundo pesquisa realizada pela IPESPE.

 

Avaliação do Governo Jair Bolsonaro - Antonio Lavareda
PESQUISA IPESPE – Avaliação Presidencial e Eleição 2022 | Dados: Dezembro 2021

 

Esse número era 40% em janeiro. A avaliação positiva (O/B) recuou ao longo do ano, passando de 32% em janeiro para 24% em dezembro. Os movimentos NET captados são impressivos. Os saldos (positivo-negativo) foram de -8 pontos para -30 pontos. Os resultados da medição dicotômica seguiram a mesma direção. A desaprovação, que começou o ano já elevada (50%), termina em 65%. Enquanto a aprovação recuou de 42% para 30%. Com os saldos indo de -8 ptos para -35 ptos.

 

Para o projeto de reeleição, o Governo não poderá esperar a campanha eleitoral para alterar a leitura pública. Ao menos o início da reversão necessitará ocorrer ainda no primeiro semestre de 2022. Já no dia 03 de março será aberta, durante um mês, a janela de migração partidária, que passará forte sinalização das chances de cada bloco em disputa.

 

Economia Brasileira no caminho certo ou errado? Pesquisa IPESPE - Antonio Lavareda
PESQUISA IPESPE – Avaliação Presidencial e Eleição 2022 | Dados: Dezembro 2021

 

A deterioração da percepção sobre a economia foi acentuada. Apontavam-na no “caminho errado” 54% em Janeiro, hoje são 69%. Os que a viam no “caminho certo” eram 34% no início do ano, recuando agora para 23%. A diferença entre as duas visões da condução da economia variou de -20 para -46 ptos. Mas o Governo acredita na repercussão do Auxílio Brasil turbinado, distribuindo 400 reais mensais para cerca de 17 milhões de famílias. Além de outras políticas distributivas, como o Vale Gás e um novo microcrédito da Caixa que seria capaz de alcançar 100 milhões de pessoas. Também aposta em investimentos privados para alavancar o PIB e reduzir o desemprego. Assim como no controle da inflação, que espera ver reduzida a 5% (metade do valor deste ano).

 

As oposições, de outro lado, acreditam que o combate à inflação, elevando os juros, dificultará a recuperação econômica, e que não haverá condições para uma maior “apropriação” política das ações voltadas à base da pirâmide social. De qualquer forma, vai se encurtando o cronograma para quem precisa mudar substancialmente a atual correlação de forças.

 

Avaliação da Atuação do Presidente Bolsonaro para Enfrentar o Coronavirus - Antonio Lavareda
PESQUISA IPESPE – Avaliação Presidencial e Eleição 2022 | Dados: Dezembro 2021

 

 

Ao lado da economia nada foi tão desgastante para a imagem do governo quanto a avaliação do seu desempenho na pandemia. A avaliação negativa da sua atuação (R/P) era de 48% em janeiro, registrando agora 54%. A positiva (O/B) era 26% e termina o ano praticamente igual (25%). Ou seja, embora quase 70% da população tenham tomado a segunda dose, um dos maiores percentuais entre países desenvolvidos, o Governo não conseguiu capitalizar esse fato. Em grande medida porque a segunda onda do vírus encontrou a área da saúde perdida.

 

Na esteira do aumento dos óbitos, a CPI da COVID foi instalada. Ela se mostraria uma devastadora usina de más notícias para o Governo. Durante meses o país acompanhou, em transmissões ao vivo na TV, denúncias que iam de esquemas de corrupção à postergação da aquisição de vacinas. Ao final, a Comissão cravou a responsabilidade do Presidente e de outras autoridades pelas mais de 600 mil vidas perdidas.

 

Interesse pela Eleição Presidencial de 2022 - Antonio Lavareda
PESQUISA IPESPE – Avaliação Presidencial e Eleição 2022 | Dados: Dezembro 2021

 

 

O interesse pela eleição é elevado: 66% têm muito (52%) ou algum interesse (14%). E 65% dizem que sua atual intenção de voto é definitiva. Percentuais muito altos se lembrarmos que, pelo calendário do TSE, a propaganda eleitoral oficial só começará em 16 de agosto na TV, rádio e internet. E as intenções de voto espontâneas – a informação mais importante para ser considerada agora, antes da definição do quadro de candidaturas – uma vez somadas, já totalizam 66%. Dois terços do eleitorado. Nesse tópico, Lula alcança 36%, numa evolução contínua a partir dos 6% que marcava em janeiro; Bolsonaro obtém 23%; Ciro Gomes e Sérgio Moro têm 3% cada; e João Doria, 1%.

 

 

Intenção de Voto para Presidente - Antônio Lavareda
PESQUISA IPESPE – Avaliação Presidencial e Eleição 2022 | Dados: Dezembro 2021

 

Em 2021, só os números de Lula mudaram efetivamente. Passada a euforia do lançamento da candidatura, quando alcançou 11%, Moro se acomoda na terceira posição, com 9%. A pequena oscilação para baixo é natural, ela costuma ocorrer quando os momentos de grande exposição dão lugar a um padrão de presença na mídia semelhante aos demais competidores.

 

Comparar os dados da pesquisa IPESPE de março (primeira medição de intenções de voto nesse ano quando o nome de Lula retornou à lista estimulada) com os de dezembro é um exercício que mostra como o esforço de comunicação e marketing dos candidatos muitas vezes repercute pouco sobre suas intenções de voto, afetadas sobretudo pela força das circunstâncias. Embora não tenham sido rigorosamente iguais as listas de candidatos nos dois momentos, elas contaram com a presença, em ambas, dos Top Five.

 

Lula - Antonio Lavareda
Variação das Intenções de Voto | Tabela: Antônio Lavareda

 

Salta aos olhos que todos os movimentos, à exceção de Lula, deram-se na margem de erro. Ele foi o único beneficiado por uma mudança praticamente radical das circunstâncias em torno dele. Em março, o Ministro Edson Fachin decidiu anular suas sentenças condenatórias; em abril, o colegiado do STF confirmou a decisão; em junho, Sérgio Moro foi julgado suspeito nos processos em que atuou contra ele. E outras decisões da Justiça se seguiriam o favorecendo. Sua elegibilidade era implausível no início do ano. À medida que vieram as notícias do front judicial, vieram também mais pesquisas apontando sua liderança, com óbvias consequências.

 

Quanto a Bolsonaro, a despeito de um ano particularmente difícil, com erosão significativa da imagem do Governo como vimos antes, ele foi capaz de manter seus eleitores mais fiéis, nos quais desperta grande entusiasmo. A quase coincidência entre intenções de voto espontâneas e estimuladas, algo muito raro, assevera isso. E coloca em dúvida hipóteses de fácil “derretimento” da sua candidatura nos próximos meses. Aos candidatos da “terceira via” cabe continuarem dialogando e tentando coordenar seus projetos, o que têm feito de maneira inédita, enquanto aguardam que, seja através da ação política, seja de imprevisíveis acontecimentos fora de sua alçada, resultem circunstâncias no próximo ano que os favoreçam. Enquanto isso, pode lhes servir de alento uma fala de Shakespeare, da peça Medida por Medida, que vez por outra acho oportuno recitar: “Não creias impossível o que apenas improvável parece”.

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