O mundo foi pego de surpresa com a explosiva entrada de Kamala Harris na disputa americana. Nem todo mundo atentou que uma vitória sua teria impacto gigante no futuro da tecnologia, e especificamente da Inteligência Artificial.
Kamala tem uma relação longa e complexa com o Silicon Valley. Começou durante seu mandato como promotora de São Francisco e continuou enquanto ela ascendia ao cargo de procuradora-geral da Califórnia.
Ela soube construir laços fortes com a indústria de tecnologia. Conhece todo mundo. Tanto que recebeu um apoio financeiro parrudo para suas campanhas, incluindo contribuições do cofundador do LinkedIn, Reid Hoffman, do CEO da Salesforce, Marc Benioff, e da ex-COO do Facebook, Sheryl Sandberg.
Como procuradora-geral da Califórnia, Harris soube morder e soube assoprar. Foi dura às vezes. Por exemplo, processando o eBay por práticas anticompetitivas. Depois, como senadora, ela questionou sem dó Mark Zuckerberg sobre fake news e privacidade. Bateu forte contra a distribuição de “revenge porn” nas redes sociais, pressionou Facebook e Google a melhorarem suas práticas.
Por outro lado, Kamala sempre tenta balancear sua atuação de maneira a não atrapalhar demais o avanço da tecnologia, no mesmo estilo de Barack Obama.
Nomeada como “czar de IA” da administração Biden, ela vem costurando acordos com os gigantes da área. Em maio de 2023, Harris se reuniu com CEOs de empresas líderes em IA, incluindo Sam Altman da OpenAI e Satya Nadella da Microsoft, para discutir o desenvolvimento ético da IA.
Em vez de “judicializar”, Kamala prefere arrancar compromissos voluntários dessas empresas para priorizar práticas de IA seguras e transparentes. Uma das suas principais iniciativas é a criação do Instituto de Segurança de IA dos Estados Unidos, destinado a desenvolver padrões rigorosos para a segurança dos modelos de IA. Normas internacionais, sim, supervisão governamental, sim, mas nada muito draconiano.
Se eleita, a tendência é que Kamala continue na mesma toada. Não é à toa que alguns analistas já estão prevendo uma revoada de atuais apoiadores de Trump no Silicon Valley na direção de Kamala. Até porque muitos já têm relações fortes, pessoais com ela.
De um lado, Kamala presidente pegaria forte em iniciativas regulatórias nas áreas de direitos humanos, segurança, privacidade e desinformação. Mas suas profundas conexões com o negócio digital – que nem Biden, nem Trump têm – sugerem um novo patamar de apoio do governo dos EUA às iniciativas dos gigantes da tecnologia.
E no centro delas, está a IA.
Fonte: Terra