Os custos dos pacotes de benefícios oferecidos pelas empresas a seus funcionários voltaram a ocupar um lugar de destaque nas estratégias das companhias, segundo pesquisa de tendências realizada pela consultoria WTW.
A edição anterior da mesma pesquisa, realizada em 2021 em meio à pandemia de Covid-19, mostrava maior preocupação das empresas com outras questões, como inclusão e diversidade, uso de novas tecnologias e acordos de trabalho mais flexíveis.
René Ballo, diretor de consultoria em saúde e benefícios da WTW, diz que, antes da pandemia, os custos sempre estiveram entre as principais questões no desenho dos pacotes oferecidos pelas empresas. Houve uma pausa durante a crise sanitária.
“Em 2021, praticamente no meio da pandemia, houve certa suspensão de utilização [dos planos de saúde], dando certo alívio financeiro às empresas”, afirma. Agora, a questão volta para o topo das preocupações, puxada, principalmente pelos planos de saúde.
As empresas negociam diretamente com os planos os percentuais de reajuste anual dos convênios e essa conta considera a inflação médica e a média de utilização, a chamada sinistralidade.
Na avaliação de Ballo, as empresas precisam reforçar a comunicação sobre o uso de benefícios para melhorar a compreensão do funcionamento desses direitos, produtos e serviços. O destaque, lembra, deve vir da saúde.
A pesquisa de tendência de benefícios da WTW ouviu representantes de 5.233 companhias que empregam 22,9 milhões de empregados em todo o mundo. No Brasil, foram ouvidas 326 empresas, que somam 900 mil funcionários.
Diante de custos crescentes para manter os pacotes de benefícios, as empresas indicam maior interesse em melhorar a eficácia de seus programas. Isso passa, segundo a pesquisa, por melhorar os contratos com fornecedores, agrupar serviços em um mesmo pacote (também nas tratativas com fornecedores) e aumentar a participação dos empregados no custo.
Entre as empresas ouvidas pela WTW no Brasil, 16% afirmaram já ter tomado medidas para aumentar a participação dos funcionários no custo e 18% disseram que planejam ações. Outros 22% afirmaram que não fizeram nada, mas planejam.
Ballo, da WTW, diz que é comum que as empresas se preocupem mais em desenhar seu planos de benefícios, quando deveriam também ouvir mais as demandas dos funcionários.
Essas expectativas, afirma, mudam de acordo com a geração, com faixa etária e com outros recortes de diversidade (funcionários LGBTQIA+, homens e mulheres negras, por exemplo).
A pesquisa da WTW mostra que, enquanto empregados gostariam de mais políticas de suporte familiar, por exemplo, isso está no pé entre o que as companhias consideram relevante.
O topo da lista do que é considerado muito importante pelos empregadores tem benefícios de saúde, seguindo por apoio à saúde mental. Esses dois pontos foram citados pelos funcionários como relevantes, mas em percentual menor.
A WTW definiu um diferencial entre as expectativas de cada um. Quando positiva, indica a margem de concordância. Quando negativa, a diferença entre o que os funcionários esperam e quanto as empresas consideram relevante.
O gap (como chamou a consultoria) mais positivo é de 33, para os benefícios de saúde. Na avaliação do diretor de consultoria em saúde e benefícios da WTW, a diferença pode ser lida como algo dado. “O funcionário entende que o plano de saúde já o atende bem.”
Os dois maiores gaps ficaram com suportes familiares e a cuidadores e plano de aposentadoria ou finanças de longo prazo. A primeira foi citada como um dos três benefícios mais importantes por 22% dos empregados, mas por apenas 3% das empresas.
Os planos de aposentadoria estava no topo para 31% dos trabalhadores. Para os empregadores, somente 12% colocaram o tema entre os três principais.
Segundo a pesquisa da WTW, uma tendência cuja adoção está atrasada —pois tinha sido apontada pelas empresas em edições anteriores— é flexibilidade na escolha da cesta de benefícios de cada funcionário.
“São pouquíssimas as empresas que oferecem isso no Brasil”, diz Ballo. Um dos impedimentos para o modelo é que ele pode tornar o pacote mais caro às empresas, além de ser mais difícil de administrar.
O que há no mercado, hoje, são alguns cartões de benefícios flexíveis, dos quais o funcionário pode escolher como quer usar.
Fonte: Folha de São Paulo