No Focus dessa semana, os economistas também passaram a prever uma inflação maior para 2024, a 3,96% no fim do ano. Até semana passada, as projeções eram de uma inflação de 3,90%. O mesmo vale para as estimativas para a taxa de câmbio: economistas acreditam que o dólar vai fechar o ano a R$ 5,13, contra R$ 5,05 na última semana.
Vale destacar que esses fatores se relacionam. Um dólar mais caro pressiona a inflação brasileira, já que a nossa economia importa muitos produtos. Com preços maiores, o BC não consegue continuar reduzindo as taxas de juros.
Além disso, outro fator que tem impulsionado o dólar nas últimas semanas é a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos. Analistas previam que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deveria iniciar um ciclo de corte nas taxas no começo do ano, o que não aconteceu.
Agora, o mercado espera que isso ocorra somente uma vez nos últimos três meses de 2024, tendo em vista que a economia dos Estados Unidos se mostrou resiliente durante todo o primeiro semestre.
Junto a isso, pesa a incerteza fiscal sobre o Brasil. Na última semana, falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentaram a percepção de que o governo não conseguirá reduzir seus gastos, o que fez disparar o preço do dólar.
Em entrevista a jornalistas após reunião com o presidente Lula nesta segunda-feira (17) para analisar as contas do governo e preparar a elaboração do Orçamento de 2025, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad e do Planejamento, Simone Tebet, afirmaram que o nível elevado de renúncias fiscais na conta do governo federal chamou a atenção do presidente.
“São duas grandes preocupações: o crescimento dos gastos da Previdência e da renúncia tributária. E o aumento dos gastos da Previdência está relacionado também ao aumento das renúncias tributárias”, disse Tebet.
“Esses números foram apresentados ao presidente. Ele ficou extremamente mal impressionado com o aumento dos subsídios”, acrescentou a ministra.
Como mostrou o blog da Andreia Sadi, o ministro tem recebido pressão de setores do PT (Partido dos Trabalhadores) e sido questionado pelo mercado financeiro sobre sua capacidade de concretizar a agenda econômica e alcançar o equilíbrio fiscal.
“Haddad jamais ficará enfraquecido enquanto eu for o presidente da República porque ele é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim e mantido por mim”, disse.
Já no exterior, as atenções seguem voltadas para eventuais sinais sobre o futuro dos juros norte-americanos. Na véspera, o presidente da distrital do Fed em Minneapolis, Neel Kashkari, afirmou que era “razoável” prever que o Fed promova apenas um corte nas taxas básicas neste ano e sinalizou que isso pode acontecer até dezembro.
“Precisamos ter mais evidências para nos convencer de que a inflação está voltando para 2%”, afirmou o banqueiro central em entrevista a um programa norte-americano.
Na semana passada, o Fed manteve a sua taxa de referência no intervalo entre 5,25% e 5,50%, patamar em que se encontra desde julho do ano passado.