Enquanto a maioria dos setores da economia tem amargado perdas em decorrência da pandemia, o mercado pet no país cresce. Com faturamento próximo a R$ 40 bilhões em 2020, o Brasil representa o segundo maior mercado mundial do setor e deve crescer, segundo estimativas, 6,07% em 2021 mesmo durante a pandemia. No total, o mundo pet gira perto de US$ 140 bilhões de dólares por ano, segundo dados do Sebrae.
O Brasil tem, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (ABINPET), 55,1 milhões de cachorros, 40 milhões de aves e 24,7 milhões de gatos e 20 milhões de peixes ornamentais.
Tratados por muitos como integrante da família, os animais recebem cada vez mais mimos de seus donos. Apenas como exemplo, o Brasil possui 130 fábricas de alimento para animais de estimação e aproximadamente 600 marcas desses produtos, um aumento expressivo se considerarmos que a primeira ração canina foi lançada no País em 1969.
Elevados ao status de “membros da família”, os animais de estimação – ou pets, em inglês, como se convencionou chamá-los carinhosamente, acabaram por ganhar um mercado próprio.
Segundo a pesquisadora Márcia Mazon, que escreveu um artigo sobre o assunto, essa nova realidade tem efeitos práticos: “Nas últimas décadas, eles [os pets] ganham o status de membros da família e o mercado de bens que os cercam não para de crescer: Pet shops especializados, brinquedos para animais, terapias, programas de televisão sobre como educar e cuidar de animais de estimação, programas para os próprios animais como Petflix e o mercado de rações”, afirma a pesquisadora, que é doutora em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Humanização
Essa tendência, que já acontece desde a década de 1980, se intensificou ainda mais na pandemia, que acelerou o processo de “humanização” dos animais com a oferta de produtos premium, como itens de higiene, de embelezamento e cosméticos que facilitam a convivência entre humanos e bichos de estimação devido aos tutores passarem mais tempo próximos a eles.
“Isoladas em casa, as pessoas começaram a sentir solidão, o que motivou a escolha pela companhia de um animal e, consequentemente, ampliou o mercado de produtos e serviços associados”, diz Nelo Marranccini Neto, presidente do Instituto Pet Brasil, sobre a presença dos pets dos lares brasileiros.
Para a psicóloga Leidiane Martinez, da CORE Psicologia, a questão da humanização dos animais de estimação é uma tendência. “Muitos donos desses bichinhos, por circunstâncias da vida moderna, como a diminuição das famílias, acabam criando-os de forma bem humanizada e cuidadosa”, afirma.
Mercado
Com isso, cresce o mercado de produtos que, há duas décadas, seriam inimagináveis, como cosméticos para animais, cerveja para bichos de estimação e até terapia para pets. Isso cria, inclusive, um filão de negócios com muito espaço para crescimento.
É o caso da startup Zutti, que é uma das maiores desenvolvedoras de produtos dermatológicos e cosméticos para pets do mercado nacional. A empresa, ligada ao Supera Parque de Tecnologia, desenvolveu a maior parte dos produtos dermatológicos do mercado. Nos últimos 2 anos desenvolveu dez cosméticos dermatológicos de alta tecnologia que já estão no mercado.
“A presença dos animais em apartamentos ainda mais próximos aos tutores colaborou para crescer mais o setor de higiene e embelezamento. Tecnologias como prebioticos e ingredientes nano encapsulados são utilizadas no desenvolvimento de cosméticos pet. Hoje, encontramos, por exemplo no mercado shampoos para cães que custam mais de R$ 100 reais. É um mercado extremamente exigente”, diz Murilo Garcia, diretor da empresa.
Ele ressalta, ainda, que os produtos são desenvolvidos com alta tecnologia e testados in vitro, em laboratórios especializados, de forma a poupar os animais de sofrimento e garantir a eficácia e a segurança dos produtos. “Essa é uma necessidade desse segmento”, conta.
Cosméticos pet em ascensão
A indústria pet é composta por um gama de categorias de produtos: alimentos, brinquedos, produtos de higiene, dentre outros. Mas há uma quantidade significativa de inovação no mercado pet focando em nichos, como o de cosméticos.
A análise é de José Edson Galvão de França, presidente-executivo da Abinpet, que vê, nesse segmento, potencial concreto para crescimento. “O mercado pet food representa 72% da receita do setor; já o pet vet, 19,6% e pet care, 8,2%”, explica.
Garcia concorda e afirma que, com o crescente aumento da exigência dos consumidores, o mercado de cosméticos para pets tem ganhado corpo a cada dia e se tornado cada vez mais complexo. “Os produtos são desenvolvidos para atender não somente as exigências sensoriais de donos e tutores, mas também dos animais, sem fragrâncias irritantes ao olfato extremamente sensível dos animais e contendo ingredientes seguros e eficazes”, finaliza Murilo.