Na tarde da quinta-feira (23), surgiram rumores de que o Ministro da Justiça, Sérgio Moro, teria pedido demissão. Especula-se que o motivo seria uma possível troca feita por Jair Bolsonaro na diretoria-geral da Polícia Federal, hoje ocupada por Maurício Valeixo, indicação do próprio Ministro. Com a notícia, o Ibovespa, maior índice da bolsa de valores brasileira, chegou a operar com queda de 2%.
Além disso, o dólar passou a ser vendido a R$ 5,51, renovando sua máxima histórica. A assessoria de Moro nega que o pedido de demissão tenha sido feito e membros da equipe dele, afirmam que a agenda permaneceu a mesma. Apesar do comunicado negando o acontecido, o mercado financeiro não descarta a possibilidade de que isso venha de fato a acontecer.
Governo em conflito
Pedro Paulo Silveira, Economista-Chefe da Nova Futura, comenta que a virada no mercado já demonstrava que o governo estava com conflitos. “O mercado aqui virou por um conjunto de medidas que podem indicar que os problemas políticos do governo estão aumentando”. De acordo com Silveira, o mercado já reagia mal por conta da ausência do Ministro da Economia, Paulo Guedes, na divulgação do pacote de medidas econômicas. “O mercado estava repercutindo mal a divulgação do plano Pró Brasil sem a participação do Paulo Guedes. Esse rumor, com a possibilidade de saída do Moro, aumentou o desconforto do mercado”, afirma.
Fernando Bergallo, Diretor de Câmbio da FB Capital, afirma que a possibilidade demonstra a forma que o governo tem se desfeito durante a crise atual. “Estamos vendo um governo se desfazer em meio à uma situação gravíssima de política internacional”. Segundo Bergallo, a demissão do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, no meio da pandemia já havia sido um problema para os investidores estrangeiros.
“A troca do Ministro da Saúde em plena pandemia, obviamente, já pegou muito mal para o investidor estrangeiro, e no momento em que o segundo pilar do governo, que é o Ministro da Justiça, que emprestou a credibilidade toda para o Bolsonaro sai do governo, você está perdendo outra perna desse tripé que não vai se sustentar sozinho”. O Diretor de Câmbio pontua que já especulam a saída do Ministro da Economia, Paulo Guedes. “Já há rumores que o próximo a sair é o Paulo Guedes, a partir daí, acabou o governo”.
Questões políticas
Para Guto Ferreira, Analista Político-Econômico isso reforça a necessidade de analisar mais a fundo as questões políticas. “Isso só reforça a opinião que nós temos um tempo, que não existe uma análise correta do financeiro sem análise da questão política”. Ferreira ressalta que uma série de questões recentes têm abalado a confiança do mercado financeiro no governo.
“O mercado financeiro vem com muita desconfiança ao governo Bolsonaro por diversos motivos, para começar com a instabilidade do Presidente da república, passando pela falta de resultados do ministério da economia”. Sobre a notícia da suposta demissão de Moro, Ferreira afirma que pode de fato acontecer e desequilibrar o governo. Além disso, ele destaca que agora o mercado passa a tratar com seriedade o cenário econômico. “A saída de Moro impacta tanto o mercado, pois ele é parte da grande trinca de estabilidade do governo, Moro, Guedes e Bolsonaro. Parece que o mercado passou a entender a real gravidade do cenário político, coisa que não era avaliada por outros especialistas”.
Demissão de Paulo Guedes
Jefferson Laatus, Estrategista-Chefe do Grupo Laatus aponta que esta expectativa gera no mercado também medo de uma possível demissão de Paulo Guedes, já que nos últimos tempos, o ministro tem se envolvido menos. “A expectativa da demissão do Sergio Moro é pesadíssima para o mercado como um todo. Mostra o desmonte do ministério do governo Bolsonaro. Agora existe uma preocupação se o Guedes está mesmo tão engajado no Ministério, tanto que o Braga Netto lançou o pacote de medidas de recuperação econômica e o Guedes não estava nem presente, o ministro da economia não estava presente em um projeto econômico”, afirma.
Para Laatus, a participação de Braga Netto no governo pode ser um fator que coopera para os últimos acontecimentos. “Desde a fritura do Onyx, que acabou saindo da casa civil, e o Braga assumiu, os ministros estão caindo. Veio a saída do Mandetta, agora o Moro com essa mudança na PF, se isso se confirmar, a perda de credibilidade do governo Bolsonaro é gigantesca, por isso o mercado acaba reagindo tão negativamente”, conclui.
Para Daniela Casabona, Sócia-Diretora da FB Wealth, a demissão de Moro mostraria mais novamente a falta de concordância entre o Presidente e sua equipe, o que em um momento de pandemia pode gerar pânico e enfraquecer ainda mais a credibilidade do governo Bolsonaro. “A ideia da demissão do Moro gera novamente um conflito do governo e desentendimento do presidente com o restante da sua equipe por isso opânico se alastrou em um momento como esse de pandemia as brigas do governo enfraquecem ainda mais”.