O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou no último dia 18, em Nova York, que houve uma “extraordinária receptividade” dos investidores estrangeiros aos títulos verdes brasileiros que serão lançados nas próximas semanas. Para ele, ainda é possível “neoindustrializar” o país para produzir e exportar produtos com boas práticas ambientais. As declarações foram durante evento produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) na Bolsa de Valores de Nova York.
Na visita em que acompanhou o presidente aos Estados Unidos, o ministro da Fazenda teve vários encontros com gestores de fundos na expectativa de atrair investimentos ao Brasil. E a agenda verde é a grande aposta, tanto que o governo anunciou que lançará cerca de R$ 2 bilhões em green bonds (títulos verdes) no mercado americano que serão integralmente destinados ao financiamento de ações sustentáveis.
“Nós estamos começando a discutir a industrialização do Brasil a partir dessa matriz (verde), entendemos que não precisamos nos resignar à condição de exportadores de energia limpa, que é o que o mundo gostaria que nós fizéssemos. Nós entendemos que boa parte dessa energia limpa tem que ser consumida no Brasil para manufaturar produtos verdes. Esse é o nosso objetivo último, modernizar a economia brasileira nos valendo das nossas vantagens competitivas.” Com essas declarações, Haddad delineou o caminho que deve ser perseguido para a reindustrialização do país. “Os empresários que quiserem descarbonizar suas cadeias de produção são muito bem-vindos para investir no Brasil”, afirmou.
José Maurício Caldeira, sócio-acionista da Asperbras, grupo que atua em diversos setores da indústria e do agronegócio, afirma que o Brasil tem tudo para ser um dos maiores players mundiais na agenda de sustentabilidade. “Temos vantagens competitivas que nos credenciam a ter uma posição de destaque na transição energética que o mundo deverá implementar nos próximos anos”.
De fato, a matriz energética brasileira é das mais verdes do mundo, quase metade (48,4%) já vem de fontes limpas, contra 15% da média mundial; a capacidade nacional para a produção de bens e serviços verdes dão ao país vantagem competitiva para promover a descarbonização; o cumprimento do compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2028 e de zerar as emissões liquidas de gases de efeito estufa até 2050 pode resultar em remoções significativas de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera.
Em um sinal para o mundo de que o compromisso do Brasil com a sustentabilidade é sério, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, informou que, de janeiro a agosto, o desmatamento na Amazônia caiu 48% em comparação com os oito primeiros meses de 2022. Em função desta redução, 200 milhões de toneladas de gás carbônico deixaram se ser lançados na atmosfera. Marina anunciou também a ampliação das metas de emissões, de 37% para 48% até 2025 e de 50% para 53% até 2030.
Além disso, a agenda verde no Legislativo deverá ganhar impulso neste semestre, segundo o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), o que também será um atrativo para quem pretende investir em desenvolvimento sustentável. São três os projetos mais relevantes a serem analisados pelos parlamentares, segundo ele: a regulamentação do mercado de carbono, o marco regulatório da transição energética com ênfase no hidrogênio verde e o marco regulatório para a produção de energia eólica em alto-mar — só a eólica offshore pode ampliar a capacidade de produção de energia no país em 3,6 vezes, segundo estudo da CNI.
Para José Maurício Caldeira, as empresas mais alinhadas à agenda verde já têm a sustentabilidade como um dos pilares. É o caso da GreenPlac, subsidiária da Asperbras. Localizada em Água Clara (MS), é a quarta maior fabricante de placas de MDF do País. Desde que começou a funcionar, há cinco anos, a companhia tem operado visando a autossuficiência e o respeito ao meio ambiente, conta José Maurício Caldeira.
Em seu processo produtivo, a GreenPlac usa eucaliptos originários de plantação própria, dentro de rigorosas normas de sustentabilidade, já certificadas pelos selos verdes mais reconhecido no mundo. Os resíduos são destinados à indústria moveleira local. A empresa utiliza ainda água de reuso das chuvas em seu processo industrial e a energia que abastece a fábrica vem de uma usina de biomassa da própria Asperbras, o que resulta em baixa emissão de carbono na manufatura dos produtos.
“O futuro é verde, a agenda da sustentabilidade veio para ficar”, diz José Maurício Caldeira. “E o Brasil está bem-posicionado para aproveitar as oportunidades que vão surgir. É uma forma de acelerar o desenvolvimento nacional reindustrializando o país em novas bases”.