O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou nesta quarta-feira (9) que o aumento da inflação em setembro, conforme apontado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), é um fenômeno “temporário”. Segundo ele, essa alta está ligada a fatores climáticos que impactaram os preços de energia e alimentos. Haddad pediu ao Banco Central que tenha cautela ao definir a taxa de juros, enfatizando que “juros não fazem chover”, ou seja, não conseguem mitigar os efeitos da estiagem.
“A situação da seca é um fator relevante. O IPCA revela que os núcleos inflacionários estão estáveis, mas a seca afeta preços cruciais: energia e alimentos. Isso não é uma questão que depende da taxa de juros”, afirmou Haddad.
O comentário foi feito antes da divulgação oficial do IPCA de setembro, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou uma inflação de 0,44%. Esse resultado foi 0,46 ponto percentual superior ao de agosto e, em doze meses até setembro, a inflação acumulou 4,42%, aproximando-se do teto do sistema de metas para este ano, que é de 4,5%.
Haddad argumentou que o aumento da inflação em setembro é resultado de um “choque de oferta” causado pela seca, que gera pressões inflacionárias temporárias. “É uma situação passageira. Em breve, com a chegada das chuvas, os preços devem se normalizar. Contudo, essa questão precisa ser analisada pelo Banco Central com a devida cautela, para evitar decisões erradas baseadas em fenômenos climáticos temporários”, completou o ministro.
Ao ser questionado sobre se o governo reduziria as críticas ao Banco Central após a aprovação de Galípolo para a presidência da instituição, Haddad respondeu que sempre manteve uma relação técnica e respeitosa com o BC. “A Fazenda e o BC têm diálogo técnico sobre o tema, e sempre houve respeito mútuo”, destacou.
Expectativas do Mercado sobre Juros
Atualmente, a Selic está fixada em 10,75% ao ano, após o primeiro aumento no terceiro mandato de Lula, que foi de 0,25 ponto percentual no mês passado. No final de setembro, o mercado começou a prever dois aumentos de 0,50 ponto percentual na Selic para as reuniões de novembro e dezembro, o que poderia levar a taxa a 11,75% ao ano até o final de 2024.
De acordo com o sistema de metas, que orienta a atuação do BC, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve ajustar a taxa de juros para alcançar as metas estabelecidas, sem se basear apenas na inflação passada. A meta central de inflação para este ano é de 3%, sendo considerada cumprida se o índice variar entre 1,5% e 4,5%. A partir de 2025, essa meta se torna contínua, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida.
As decisões sobre a taxa de juros têm um impacto que pode levar de seis a 18 meses para se refletir plenamente na economia. Portanto, o BC está focado na inflação acumulada em 12 meses, até meados de 2026.
As projeções do BC e do mercado estão, atualmente, “desancoradas” das metas de inflação estabelecidas para o futuro, com expectativas de alta. Na semana passada, analistas de bancos estimaram um IPCA de 4,38% para 2024, 3,97% para 2025 e 3,61% para 2026 — todos acima do objetivo central de 3%, mas ainda dentro do limite de 4,5%. O Banco Central, por sua vez, projetou uma inflação de 4,3% para 2024, 3,7% para 2025 e 3,3% para 2026, também acima da meta central e dentro do intervalo de tolerância.
A principal contribuição para o aumento da inflação mensal deve vir da elevação dos preços de alimentos no domicílio. Além disso, os preços de bens industriais tendem a aumentar, influenciados por altos custos de produção, variações no dólar e aumento do IPI sobre cigarros. Os preços de serviços também devem acelerar, principalmente devido a passagens aéreas. Em relação à gasolina, as recentes quedas nos preços do petróleo e da gasolina internacional sugerem uma “tendência de moderação” nos preços internos. No que tange à energia elétrica, as chuvas abaixo do esperado e as temperaturas elevadas aumentam a probabilidade de “bandeiras tarifárias mais restritivas” até o final do ano.