Um estudo divulgado pela B3 lança luz sobre o perfil dos 2 milhões de investidores que entraram na Bolsa entre abril de 2019 e abril de 2020. São jovens com idade média de 32 anos, sem filhos (60%) e renda mensal de até R$ 5 mil (56%). Mais do que a jovialidade, o que chama a atenção são as fontes usadas pelos novatos para se informar ou obter recomendações de investimentos.
Internet é a mais utilizada a fim de informar-se sobre investimentos
A internet lidera como fonte de informação para novos investidores (73%), seguido pelo YouTube e influenciadores (60%). Informativos e redes sociais de instituições financeiras aparecem na sequência com 38% cada, enquanto assessores e consultores de investimentos, a priori as fontes mais confiáveis, estão na última posição com 14%, ao lado de jornais e revistas.
“Criou-se um estigma baseado na conduta equivocada de profissionais de bancos cometida no passado, mas que não condiz com os avanços do mercado financeiro. Hoje, o relacionamento entre cliente e profissional de investimentos não é guiado pela meta do dia, mas, sim, pela aderência do perfil e objetivos do investidor aos produtos disponíveis para aplicação. A população, mais bem informada sobre o tema, faz parte dessa mudança de postura”, diz Fabio Louzada, economista e CEO da startup Eu Me Banco.
No quesito recomendação de investimentos a desconfiança nos profissionais do mercado financeiro é preocupante: portais de internet (35%), YouTube e influenciadores (32%) são mais buscados pelos novos investidores do que assessores e consultores financeiros (10%) e o gerente do banco (2%).
“Existe uma relação clara no mercado americano que não ocorre no Brasil por desinformação. O assessor financeiro, bem como gerentes com certificação CEA, está para os investimentos como o médico está para a saúde e o advogado está para questões legais. É preciso um trabalho intenso de educação financeira para corrigir essa distopia. Não é preciso ser um especialista em investimentos para investir, porém, é preciso buscar as fontes certas para ter orientação, do contrário os danos patrimoniais e o trauma podem ser irreversíveis”, alerta Fabio Louzada, que antes de empreender como professor e mentor atuou por 12 anos na área de investimentos dos bancos Bradesco Prime, Santander Select, Citigold e Itaú Personnalité – tempo suficiente para detectar as dores do segmento.
“A mudança é lenta, mas urgente”
Louzada, junto com 42 professores, trabalha na formação de consultores e assessores de investimentos alinhados ao novo momento do investidor brasileiro. Em dois anos de operação da startup de educação Eu Me Banco, cerca de 10 mil alunos buscaram capacitação para passar nos exames de certificações financeiras e dominarem as habilidades práticas necessárias para montar boas carteiras de investimentos.
“Não existe a carteira de investimentos ideal para todo mundo. Cada cliente tem peculiaridades que não são detectadas por robôs em questionários. São informações que parecem irrelevantes para quem não é especialista, mas que são determinantes para o êxito dos investimentos. O dinheiro destacado para uma viagem no final do ano, por exemplo, não pode ficar travado num investimento que, apesar de rentável, só pode ser resgatado após dois anos. São pequenas sombras que podem colocar o investidor numa cilada, mas que são evitáveis quando existe o acompanhamento de um assessor ou consultor de investimentos”, alerta o economista.
O estímulo às certificações financeiras (CPA-20, CEA, Ancord e CFP®) é um dos caminhos adotados pelas instituições para driblar a falta de conhecimento sobre investimentos de parte dos profissionais que atuam na linha de frente junto ao investidor.
“A mudança é lenta, mas urgente. É inadmissível que o cliente puxe uma conversa sobre investimentos e descubra que sabe mais sobre o tema do que o profissional, isso abala a credibilidade. Por isso as certificações se consolidam como pré-requisito em vagas relacionadas com produtos de investimento. Existe um esforço dentro dos bancos e cooperativas para certificar equipes inteiras para se alinhar ao novo mercado. Bradesco e Itaú são exemplos, bem como o Sicredi, que confiou o processo a Eu Me Banco”, comenta Fabio Louzada.