A governança corporativa é um pilar essencial para o sucesso e a sustentabilidade das organizações. Nos Estados Unidos, a matriz de competências já é amplamente adotada por cerca de 75% das empresas do S&P 500, segundo o relatório da PwC (Board Composition: Building Your Dream Team, 2024). No Brasil, porém, a prática ainda engatinha, refletindo diferenças culturais, estruturais e até regulatórias. Essa discrepância merece atenção, pois evidencia como a governança pode ser um fator diferencial entre mercados consolidados e emergentes.
EUA: Matriz de Competências como Padrão
Nos Estados Unidos, a matriz de competências é mais do que uma ferramenta; é um símbolo de transparência e estratégia. Empresas utilizam esse instrumento para mapear habilidades, identificar lacunas e planejar a renovação de seus conselhos de forma proativa. Isso reflete uma cultura de accountability, onde os conselhos são pressionados por investidores e stakeholders a justificar suas escolhas e demonstrar alinhamento com as estratégias de longo prazo.
Além disso, a matriz é frequentemente divulgada nos relatórios anuais e nos proxy statements, permitindo que acionistas e o mercado avaliem a adequação da composição dos conselhos. Esse nível de transparência contribui para a confiança dos investidores, essencial em mercados competitivos.
Brasil: Engatinhando
No Brasil, a matriz de competências ainda é uma prática pouco disseminada. Embora o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) promova a adoção de conselhos mais diversos e qualificados, a formalização dessa abordagem enfrenta desafios. Muitas empresas brasileiras apenas elaboram a matriz de competências quando solicitadas por investidores ou auditorias específicas, tratando-a como uma formalidade, de forma passiva, e não como uma ferramenta estratégica de busca por novos membros.
Essa abordagem reativa dificulta o uso da matriz para mapear lacunas ou orientar o planejamento sucessório. A governança corporativa brasileira, historicamente mais centrada no controle familiar ou estatal, não incentivou uma análise tão detalhada e proativa das habilidades dos conselheiros.
Por que a maioria das empresas brasileiras de capital aberto não têm a mesma prática?
Em conselhos que resistem à renovação, membros com mandatos longos ou redes de influência estabelecidas podem preferir evitar ferramentas que exponham fragilidades nas competências do colegiado. Não é surpresa, portanto, que o relatório da PwC aponte que 49% dos conselheiros acreditam que pelo menos um membro de seu conselho deveria ser substituído. Essa percepção reflete a dificuldade de alinhar as competências dos conselhos com as demandas estratégicas das organizações.
A ausência da matriz de competências pode servir a interesses individuais de curto prazo, mas prejudica o desenvolvimento estratégico das organizações, minando sua capacidade de competir em um ambiente de negócios cada vez mais complexo e desafiador.
Oportunidades e Desafios no Brasil
A adoção da matriz de competências no Brasil poderia trazer inúmeros benefícios, como maior profissionalização, diversidade, alinhamento estratégico e melhores decisões, aumentando como resultado a competitividade das organizações. No entanto, sua implementação enfrenta barreiras culturais, como resistência a mudanças e a visão de conselhos como espaços de poder e influência pessoal, em vez de instâncias técnicas e estratégicas.
Ademais, há desafios culturais. Muitas empresas brasileiras ainda estão aprendendo a valorizar a transparência como uma ferramenta competitiva. A utilização da matriz como instrumento estratégico, e não apenas formal, exigirá um esforço conjunto de educação e conscientização, tanto para conselheiros quanto para investidores.
O contraste entre Brasil e Estados Unidos no uso da matriz de competências reflete diferentes estágios de maturidade na governança corporativa. Enquanto os EUA mostram como essa prática pode fortalecer conselhos e gerar confiança no mercado, o Brasil precisa avançar em sua implementação para competir globalmente.
Adotar a matriz de competências como uma ferramenta estratégica, e não apenas como uma exigência pontual, é crucial para transformar conselhos de administração em motores de inovação e eficácia. Afinal, até quando alguns conselhos resistirão a essa mudança, privilegiando agendas nebulosas em detrimento da evolução intelectual? Com o apoio de empresas especializadas e o maior engajamento dos investidores, o Brasil pode superar seus desafios e construir conselhos mais preparados para enfrentar as demandas dos próximos anos.