A Argentina teve novos números da inflação oficial divulgados na última quarta-feira (14) e o presidente, Javier Milei, passa por mais um teste. Desde que ele assumiu o poder, o índice mensal de preços caiu dos 25,5% em dezembro de 2023 para 4,6% em junho deste ano. Ainda que o acumulado seja de expressivos 271,5% na janela de 12 meses, essa desaceleração tem sido um dos trunfos da gestão.
Milei assumiu a Casa Rosada no fim do ano passado com o desafio de aliviar a severa crise econômica que o país enfrenta há décadas. Além da inflação exorbitante, a falta de reservas em dólar e a desvalorização da moeda local, estão no centro do problema a dívida pública. Ele está focando no corte de gastos e o ajuste das contas públicas, pensando que, melhorando a parte fiscal, a economia argentina dê mais confiança aos investidores, destrave investimentos privados e passe a andar nos trilhos.
O chamado “Plano Motosserra”, referência ao corte de gastos, determinou uma desvalorização do câmbio, paralisação de obras públicas e o corte de subsídios em tarifas de serviços essenciais. Para a população, as medidas são doloridas. A inflação desacelerou, em outras perspectiva, mas a base de comparação também subiu. Desde o início do ano, os preços de água, gás, luz e transporte público estão bem mais altos.
O PIB argentino também levou um tombo de 5,1% no primeiro trimestre, o mercado de trabalho piorou e a pobreza subiu. Milei, em sua posse, avisou que a economia ia piorar antes de ver resultados. Por isso, apesar do custo social, as medidas iniciais elevaram os ânimos do mercado financeiro.
Afinal, como planejado e apesar da impopularidade das medidas, as reservas em dólar aumentaram e a Argentina registrou, no primeiro trimestre, seu primeiro superávit fiscal desde 2008. O superávit acontece quando a arrecadação é maior do que os gastos. Ainda assim, o câmbio continua instável, o crescimento das reservas não é rápido o suficiente e a dívida pública continua sendo um fantasma para a equipe econômica. Passados sete meses, o fator longo prazo começa a preocupar quem apoiou as medidas de choque do presidente argentino.
A Argentina tem mostrado dificuldade em conseguir robustez em suas reservas internacionais, apesar do avanço nos resultados fiscais e do processo de compra de dólares no mercado cambial. As reservas são valores que um país possui uma moeda estrangeira, que funcionam como uma espécie de “seguro” para fazer frente às suas obrigações no exterior e a choques externos, como crises de desvalorização acentuada da moeda local. São parte importante para a conquista de confiança e a atração de investimentos.
O colchão de dólares da Argentina era de pouco mais de US$ 21 bilhões, quando Javier Milei assumiu o cargo, em dezembro 2023. Com todas as medidas de arrocho, o valor chegou a US$ 30 bilhões em abril deste ano, uma alta de mais de 40%. Em julho, no entanto, o valor já caiu para cerca de US$ 27,4 bilhões.
Em tentativa de alavancar as reservas argentinas, Milei incluiu no “Plano Motosserra” um aumento provisório do imposto de importações (chamado de “Pais”, que incide sobre a compra de dólares). O objetivo do governo é elevar as exportações e diminuir as importações para deixar a balança comercial no azul. Exportar mais e importar menos significa mais dólar entrando na economia do país.
O saldo da balança comercial tem sido positivo: em junho, as vendas para o exterior subiram 21,7% em comparação com o mesmo mês de 2023, enquanto as importações caíram 35,4% no mesmo período. O movimento, no entanto, tem esbarrado em velhas travas econômicas do país, como a crise cambial.
Com o peso fraco e sofrendo interferência do governo para que não se desvalorize demais, exportadores agrícolas estão segurando estoques à espera de um câmbio mais competitivo e de uma melhora nos preços internacionais de commodities. Cálculos da Sociedade Rural da Argentina dão conta de que cerca de US$ 21 bilhões em grãos exportáveis estão armazenados no país em compasso de espera para vendas.
Fonte: Farol da Bahia