O que fazer quando há brigas entre alunos? Como ajudar a identificar casos de violência no contexto escolar? Essa é a proposta do Ambiente Positivo de Aprendizagem (APA), programa lançado pelo Serviço Social da Indústria (SESI) nesta quarta-feira (30), no SESI Lab, em Brasília.
O objetivo é orientar a comunidade escolar para identificação, encaminhamento, resolução e monitoramento de casos de violência. O programa deve ser implementado primeiro na própria rede de ensino do SESI para depois ser um modelo para outras escolas (saiba mais abaixo).
O evento contou com transmissão ao vivo no canal no YouTube do SESI e tradução simultânea em Libras. Confira:
O que é um ambiente positivo?
Antes de qualquer coisa, o que é um ambiente positivo? Ele é um espaço físico e psicológico que promove o crescimento e facilita o desenvolvimento saudável de todas as pessoas que participam desse meio. Na escola ou em casa, um ambiente positivo é composto por relações harmoniosas, de não violência e acolhimento.
Em sala de aula, um espaço positivo é fundamental para o sucesso acadêmico e emocional dos estudantes. Já em casa, é igualmente importante para o bem-estar e a saúde mental. Durante o lançamento, o gerente executivo de Educação do SESI, Wisley Pereira, lembrou que a pandemia acelerou o processo de conciliar o desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos alunos. Hoje, a escola tem muitos desafios, e um deles é a garantia de aprendizagem em um país diverso e com diferenças socioeconômicas.
“Por isso, o SESI tem um programa nacional para desenvolvimento de competências socioemocionais. O APA é uma das estratégias desse programa, que tenta apoiar toda a comunidade escolar para garantir e trazer para a escola um ambiente seguro e de paz”, explicou. “Os jovens precisam querer ir pra escola e se sentirem acolhidos e seguros.”
Ele também reforça que o APA não é um programa exclusivo do SESI. Wisley acredita que o Ambiente Positivo de Aprendizagem deve transbordar para outras redes e que “esse tem que ser um compromisso coletivo”.
Da gestão de crise às ações: a jornada do APA
O primeiro passo para implementação do programa é a formação de gestores, docentes e colaboradores das escolas SESI, que vão receber protocolos com procedimentos para identificar, responder e resolver situações problemáticas que possam surgir na escola, desde um puxão de cabelo até um bullying coletivo.
O guia é dividido em cinco tipos de violência: física, psicológica, preconceito, crises na relação entre professores e estudantes e episódios de violência coletiva. O documento traz os impactos negativos que uma situação de preconceito, por exemplo, pode ocasionar na vida de um estudante, como prevenir, conscientizar, intervir, capacitar, o que fazer e o que evitar. Há também um canal de acolhimento e encaminhamento de denúncias, sob sigilo, no Portal do SESI.
Sabendo das dificuldades de implementar mudanças, o APA também conta com algumas ferramentas para auxiliar a comunidade escolar. Além dos protocolos, existem duas jornadas para os alunos e para as famílias.
Os documentos são compostos por videoaulas e um caderno de atividades. Para os estudantes do ensino médio e fundamental, são abordados temas como autoconhecimento, autocontrole e estratégias de manejo da raiva. Já para as famílias, padrões de educação parental, violências cotidianas e parentalidade positiva.
Rafael Matta, gerente de Educação Tecnológica do SESI, pontuou que a equipe do SESI nacional está pronta para dar todo o suporte de implementação aos departamentos regionais e propôs que todos se responsabilizem para transformar a comunidade escolar.
“Juntos podemos transformar cada escola do SESI em um refúgio de aprendizagem seguro, acolhedor e inspirador. Vamos construir uma educação que supere os desafios do mundo complexo em que vivemos”, declarou.
A importância das formações para toda a rede
Foi pensando nos impactos da pandemia que o APA começou a ser construído. Leonardo Lapa, gerente de Educação Básica do SESI, contou que a equipe estava há dois anos na construção do programa. Quando voltassem do isolamento, os estudantes precisariam que suas competências socioemocionais fossem olhadas com cuidado e que a escola tivesse diretrizes para prevenir a violência. Mas isso só seria possível com o engajamento de toda a escola, por isso foram elaboradas diversas formações.
“Se a comunidade escolar não está engajada, com um olhar ativo, e não está preparada pra atender as necessidades dos estudantes, a gente não vai conseguir ter sucesso”, considerou.
Quem também acredita na importância das formações é Juliana Ferrari, consultora para assuntos de educação e saúde mental do Banco Mundial, parceiro do SESI no programa. Juliana explicou que um ambiente positivo de aprendizagem depende de atenção plena, escuta ativa e comunicação. Esses três pilares só poderão ser garantidos a partir do treinamento de professores, gestores e colaboradores.
“A gente finalmente fez formação para professores e gestores. Tiramos do colo dos professores lidar com tudo isso. A coisa mais bonita é poder fazer formação para funcionários. No combate da saúde mental, o porteiro ou a pessoa da cozinha são nossos embaixadores”, contou.
Escola: um lugar de acolhimento
Para Juliana Ferrari, o que motiva a criação de um programa como esse é o próprio processo de aprendizagem. “O cérebro não aprende em momentos de estresse e violência. A importância da construção do APA está no acolhimento”, enfatizou. Além do apoio do Banco Mundial, o programa contou com experiências de Departamentos Regionais que já tinham projetos de promoção de saúde mental ou prevenção de violência.
Juliana revelou que, para um problema complexo como a cultura da paz nas escolas, foi necessário ir atrás de respostas complexas a partir de práticas dos DRs e também internacionais.
“Simples é fazer um bolo, você segue a receita. Complicado é mandar um foguete para a lua. A receita é mais longa, tem detalhes. Complexo é educar, porque não tem receita. Mesmo que siga o passo a passo, são muitas variáveis” explicou. “Quando a gente aprendeu com as experiências, a gente entendeu essa complexidade.”
Já Beatriz Ferraz, vice-presidente de educação da Lekto, também acredita que o estudante precisa estar em um ambiente seguro e acolhedor para o desenvolvimento de suas habilidades. “O aluno em situação de insegurança não tem condições de aprender”, acrescentou.
Ela relembrou que a escola é um reflexo da sociedade. “Se a gente vive numa sociedade violenta, essa violência está na escola”, disse. Por isso, é preciso focar nas competências socioemocionais e formas de acolhimento, além do conhecimento acadêmico. Beatriz é vice-presidente da Lekto, empresa que trabalha em parceria com o SESI. A plataforma apoia o professor na formação integral de seus alunos com foco no desenvolvimento emocional e cognitivo.
Projeto piloto
Após o lançamento, a proposta é que alguns Departamentos Regionais adotem o APA para que seja executado um projeto piloto a partir de outubro. Até o momento, 13 DRs manifestaram interesse em participar dessa primeira etapa. Em 2024, o SESI quer expandir o programa para toda a rede.
Além disso, integrado ao Programa de Avaliação do Sistema SESI de Educação (Passe), são aplicadas pesquisas de clima escolar para que as escolas não tenham só os números de desempenho dos alunos, mas também entendam se são um espaço de acolhimento e aprendizagem.
#PazNasEscolas
Falar de um ambiente positivo de aprendizagem também deve ser tema em meios de comunicação. O Canal Futura, o SESI e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) lançaram a série #PazNasEscolas, com 30 episódios de 1 minuto cada para conscientizar alunos e professores a promoverem um local saudável e seguro nas escolas.
Os episódios são exibidos entre os programas e abordam temas como bullying, gentileza, saúde mental, empatia e segurança on-line. Para conferir os vídeos que já foram ao ar, clique aqui. Acompanhe a programação para ver os demais episódios!
Fonte: Portal da Indústria