O número de mortos por causa das chuvas no leste da Espanha chegou a 140 nesta quinta-feira (31) e dezenas de pessoas estão desaparecidas devido às severas inundações que atingiram especialmente a região de Valência. Em algumas localidades, a precipitação em poucas horas superou a média de um ano, resultando em enchentes que devastaram cidades inteiras e deixaram milhares de moradores ilhados.
As chuvas intensas, acompanhadas de fortes ventos e até tornados, foram causadas por um fenômeno meteorológico chamado Depressão Isolada em Altos Níveis (Dana). Este fenômeno impactou uma vasta área no sul e leste do país, e em certas regiões, foram registrados impressionantes 445,4 litros de chuva por metro quadrado.
O termo Dana, usado pelos meteorologistas espanhóis nas últimas décadas, distingue este fenômeno da “gota fria”, uma expressão mais genérica para referir-se a chuvas intensas na costa mediterrânea, especialmente durante o outono. A Dana ocorre quando uma massa de ar polar muito fria se isola e começa a circular em altitudes elevadas, longe da dinâmica atmosférica habitual.
Quando essa massa fria colide com o ar quente e úmido do Mar Mediterrâneo, surgem tempestades severas, especialmente no final do verão e início do outono, quando as temperaturas do mar são mais altas. Essa instabilidade atmosférica provoca nuvens de tempestade que podem se elevar, resultando em um aumento significativo de umidade.
Esse fenômeno pode persistir por dias, trazendo quedas bruscas de temperatura e condições climáticas extremas. Diferentemente de tempestades comuns, a Dana pode permanecer em uma área por um tempo prolongado, intensificando os impactos. Embora a maioria das Danas não resulte em eventos extremos, algumas, como a atual, têm consequências devastadoras.
A Agência Meteorológica Espanhola (Aemet) classificou essa tempestade como “a mais adversa do século na Comunidade de Valência”. Historicamente, algumas Danas, como a de 1973, resultaram em mortes e grandes danos materiais, mas a intensidade e a extensão das inundações atuais são notáveis.
Os especialistas atribuem a frequência crescente de Danas e o aumento na intensidade das chuvas às mudanças climáticas. Estudos indicam que cada aumento de 1°C na temperatura global pode resultar em 7% a mais de umidade na atmosfera, intensificando a quantidade de chuva nas tempestades.
Com o aumento das temperaturas do Mar Mediterrâneo, as condições para o desenvolvimento de Danas mais potentes se tornam mais favoráveis. A combinação de solo aquecido e menos capaz de absorver água agrava os efeitos das chuvas intensas, levando a inundações mais severas.
Além disso, a infraestrutura moderna da Espanha, projetada para um clima do passado, mostra-se inadequada para lidar com os eventos climáticos extremos atuais. Isso levanta questões sobre a capacidade de previsão de tempestades intensas, destacando a necessidade urgente de adaptação às novas realidades climáticas.