12/7/2021 –
Associação de Promoção da Equidade Racial lança programa inédito no Brasil para reduzir a desigualdade racial
Está sendo anunciado o Pacto de Promoção da Equidade Racial para propor e implementar um novo Protocolo ESG Racial no Brasil, trazendo a questão racial para o centro do debate econômico brasileiro e atraindo a atenção de grandes empresas nacionais e multinacionais, assim como de importantes agentes da sociedade civil para o tema. O Pacto irá promover a adoção do novo Protocolo por empresas e investidores institucionais com o objetivo de incentivar a adoção de ações afirmativas e a realização de investimento sociais voltados à melhoria da qualidade da educação pública e a formação de profissionais negros.
O Pacto de Promoção da Equidade Racial, que será gerido pela Associação de Promoção da Equidade Racial, uma entidade privada e sem fins lucrativos, foi desenvolvido durante um ano por um grupo de mais de 140 pessoas. O Protocolo ESG Racial é uma iniciativa inédita no mundo e de alto potencial de impacto no curto, médio e longo prazos. Propõe que as empresas trabalhem seus ambientes internos e, simultaneamente, contribuam para a transformação da realidade externa. Ou seja, que invistam na promoção da equidade racial entre seus próprios colaboradores e atuem positivamente nas comunidades nas quais estão inseridas.
O fator de mudança está no movimento das empresas de incorporarem a questão racial a parâmetros sociais, ambientais e de governança. Os critérios ESG (sigla de Environmental, Social and Governance), que já orientam investidores institucionais quanto a questões ambientais, sociais e de governança, agora podem também ser a base da mudança estrutural do Brasil no que tange à equidade de negros no mercado de trabalho em cargos de gestão e de liderança. Investidores e a sociedade estão exigindo das empresas um novo posicionamento com relação a essa questão racial, e o projeto proporciona a essas empresas um roteiro claro do que fazer diante dessa nova demanda no Brasil.
“Após séculos de escravidão e falta de oportunidades sociais e econômicas para a população negra, a sociedade civil e as empresas brasileiras podem (e devem) atacar as consequências negativas desse problema histórico”, diz Gilberto Costa, profissional do mercado financeiro e que atuará como Diretor Executivo da Associação.
“Adaptamos o Protocolo ESG para a realidade racial brasileira, que é muito diferente daquela encontrada nos países desenvolvidos. No Brasil, com 56% da população negra, as empresas estão muito atrás na promoção da diversidade racial, principalmente quanto às suas posições de liderança. Nesse sentido, para atender à pauta ESG, não basta apenas às empresas brasileiras adotarem ações afirmativas. Há que se investir no enfrentamento do racismo institucional e, ao mesmo tempo, investir na formação de crianças e jovens negros potencializando o investimento do Estado nas redes públicas”, diz Jair Ribeiro, um dos idealizadores da iniciativa e presidente da Associação Parceiros da Educação. “Acreditamos que com maior participação da sociedade civil podemos, sim, mudar a realidade do país e promover maior equidade racial e social”, complementa.
“O momento é especialmente propício devido ao advento e à maior relevância de métricas ESG adotadas por investidores em todo o mundo, e aos recentes movimentos no mundo e no Brasil em prol da inclusão racial e contrários a episódios de violência pautados na exclusão racial”, diz o Professor Hélio Santos, Presidente do Conselho da OXFAM Brasil e que foi indicado para a presidência do Conselho da Associação. Segundo ele, o Protocolo ESG Racial será uma grande oportunidade para que as empresas desenvolvam um posicionamento e uma narrativa consistentes com essa nova cobrança da sociedade, bem como apoiem a busca por maior justiça social. “Como resultado, as empresas irão alavancar sua sustentabilidade econômica e social, além de fortemente contribuir para a mudança da realidade brasileira em apenas uma geração”, diz.
O processo de adesão é totalmente voluntário e gratuito. Os interessados assinarão um Termo de Parceria com a Associação de Promoção da Equidade Racial, manifestando interesse em adotar o novo Protocolo ESG para questões raciais no Brasil com base nas premissas do Pacto de Promoção da Equidade, e calcularão o seu respectivo Índice ESG de Equidade Racial, com o apoio de uma empresa certificadora. Esse Índice, construído por especialistas, serve para medir o desequilíbrio racial dentro das organizações em termos de renda destinada a profissionais negros, quando comparado ao percentual de negros na população economicamente ativa na região em que a empresa atua. O Índice pode ser melhorado com a adoção de ações afirmativas e o compromisso de realizar investimentos em equidade racial dentro dos parâmetros do programa. Para simplificar a comunicação do tema com o grande público e investidores, foi adotado um rating, seguindo modelo amplamente reconhecido por empresas e gestoras de ativos financeiros.
“O Índice ESG de Equidade Racial representa uma forma de medir o desequilíbrio entre brancos e negros no mercado de trabalho formal. Com o IEER será possível avaliar, monitorar e comparar as empresas ao longo do tempo e, isto por si só, tenderá a criar um incentivo, endógeno, para que elas se tornem mais comprometidas com a promoção da equidade racial”, afirma Michael França, pesquisador do Insper, membro do Grupo de Construção do Pacto e um dos criadores do índice.
A alocação dos investimentos sociais em equidade racial reflete o objetivo de formar mão de obra negra qualificada ao longo de uma geração, dando preferência por intervenções que apoiem a formação integral de mão de obra negra e sua inserção no mercado de trabalho. O Protocolo define os ranges quanto à alocação dos investimentos sociais em equidade racial por área, cabendo à gestão das empresas definir onde e como alocá-los. A iniciativa tem apoio do Pacto Global da ONU, a maior iniciativa de sustentabilidade corporativa do mundo com mais de 16 mil membros em 160 países, além de já ter a adesão da comunidade negra, de importantes agentes da sociedade e de empresas nacionais e multinacionais.