São Paulo, SP 28/10/2021 –
Com o avanço das tecnologias, o poder dos influenciadores digitais vai além do “ter e comprar” e instiga também o “ser e sentir”
Hoje em dia, quando alguém diz que vai fazer um detox, pode significar sair das redes sociais por um tempo. Ao voltar, mesmo que após um curto período, a sensação é de que ela estava fora de órbita – literalmente. Isso acontece porque cada vez mais novas funções, que prometem tudo mais rápido, melhor e mais bonito, surgem o tempo todo e promovem esse tipo de situação nas redes sociais.
O Instagram, que é o quarto aplicativo mais baixado e usado no mundo, funciona como um grande álbum de fotos, e as pessoas se esforçam para que até as que duram apenas 24 horas estejam “perfeitas”, com filtros. Não é de hoje que eles existem. Mesmo lá em 2010, no lançamento do app, já era possível editar digitalmente as cores e os efeitos sobre as imagens. Mas foi no Snapchat que os filtros em realidade virtual (VR) se popularizaram. A brincadeira “despretensiosa” de tirar uma foto usando orelhinhas de cachorro, óculos grandes e adereços coloridos de forma virtual, logo ganhou o poder de afinar o nariz, preencher a boca, alisar o rosto, trocar a cor do cabelo e maquiar a pele com apenas um toque.
Uma pesquisa feita pelo “Projeto Dove pela Autoestima” mostrou que 84% das meninas de 13 anos já usaram algum ajuste digital para modificar sua imagem nas fotos, enquanto 78% admitiram mudar ou ocultar pelo menos uma parte ou característica de seu corpo antes de postar uma selfie. E isso já é refletido nos consultórios, como conta o dermatologista Thiago Vinicius Ribeiro Cunha, do Espaço Arquétipo: “É muito comum as pessoas chegarem nas clínicas dizendo que não conseguem mais tirar fotos sem filtro, ou pedir para ficar com o nariz, a boca, a pele que aparece quando elas usam esses retoques digitais”. O padrão de beleza inatingível – que as revistas causavam há 10 anos -, deu lugar ao seu próprio rosto, mas retocado por uma edição irreal.
No final de 2019, o Instagram anunciou a proibição de filtros que deformassem os rostos. Mas isso não impede que as pessoas escondam ou transformem detalhes na pele. Na Noruega, por exemplo, os influenciadores digitais não podem mais postar conteúdos publicitários que tenham algum tipo de edição de imagem – mesmo que apenas por meio de filtros – sem avisar os seguidores.
Agora, o sinônimo de beleza, especialmente para as gerações Y e Z, parece estar atrelado a este ajuste, desfoque. A pressão para postar a “selfie perfeita” está prejudicando a autoestima e a confiança das pessoas. “Existe uma pressão muito grande que leva as pessoas a se compararem umas com as outras. E as mídias sociais reforçam isso, porque o tempo inteiro é proposto um modelo a se seguido: de vida, de corpo, de rosto, qual que é a roupa que você deve vestir, a aparência que você deve ter… E isso vai gerando nas pessoas uma pressão para trazerem para si aqueles elementos que, geralmente, são acolhidos pela sociedade”, comenta o psiquiatra e psicanalista Adilon Harley Machado da Silva, que, ao lado de Thiago, desenvolveu o Espaço Arquétipo, para trabalhar estética e saúde mental de maneira conectada.
“O arquétipo é a totalidade, o belo e o feio, o certo e o errado, que se complementam para nos revelar que, bom mesmo é quando a gente se conhece por fora e por dentro. É um mecanismo livre de todos os julgamentos”, finaliza o médico.