7/3/2022 – Mindfulness é mais do que meditação, é um treinamento da atenção e também do equilíbrio emocional
Pesquisa aponta que houve aumento de 45% no número de pessoas adeptas à meditação durante a atual crise sanitária; psicóloga explica como prática de mindfulness pode ajudar no aumento do bem-estar em tempos pandêmicos
O impacto da pandemia de Covid-19 na saúde mental da população tem sido, com o passar dos meses, mensurado por diversos estudos. O mais recente deles foi divulgado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) no dia 2 de março, apontando que houve um aumento de 25,6% nos casos de transtorno de ansiedade e 27,6% nas ocorrências de transtorno depressivo grave em 2020, primeiro ano da atual crise sanitária. Tal situação, consequentemente, fez com que também houvesse uma procura maior pela prática da meditação.
De acordo com a pesquisa “PICCovid – Uso de Práticas Integrativas e Complementares no Contexto da Covid-19”, realizada em parceria entre pesquisadores do ObservaPICS (Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares em Saúde) da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), do Icict (Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde) e da FMP/Unifase (Faculdade de Medicina de Petrópolis), 28% dos brasileiros praticaram a meditação em 2020 a partir de programas oferecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Outro estudo, realizado pelo V.Trends, hub de insights da Vivo especializado em comportamento do consumidor, indicou que a pandemia ocasionada pelo coronavírus Sars-Cov-2 aumentou em 45% o número de pessoas adeptas à meditação – a pesquisa apontou, ainda, que uma em cada três pessoas que meditam atualmente iniciaram a prática durante este período.
O cuidado com a saúde emocional, a redução da ansiedade e a melhoria do sono, segundo a pesquisa, foram os principais motivos que levam os moradores de grandes centros urbanos a meditar: dos respondentes do levantamento, 70% afirmaram praticar meditação para reduzir a ansiedade e 68% demonstraram preocupação com a saúde mental.
Para Sheila Drumond Leite, psicóloga e diretora do CPPMP (Centro de Psicologia Positiva e Mindfulness do Paraná), “a meditação, por si só, tem como objetivo a auto-observação e o treino de autonomia sobre sua própria mente e, portanto, sobre suas próprias emoções”.
Meditação “laica”
Citando o mindfulness, uma vertente “laica, científica, sem qualquer ligação mística com o esoterismo”, Leite afirma que há exemplos bem-sucedidos do uso da meditação na mitigação dos efeitos da pandemia de Covid-19 na saúde mental e emocional da população em países como Coreia do Sul e Espanha durante a fase de isolamento social, classificada por ela como “a fase mais crítica da pandemia”.
A psicóloga, que atualmente desenvolve em seu canal de YouTube uma “maratona” de 100 dias de meditação, com práticas diárias – sempre ao vivo e às 7h30 da manhã -, ressalta que “não há uma obrigação em sentir bem-estar durante uma fase tão crítica como vivemos”, mas afirma que a prática de mindfulness pode ajudar as pessoas a gerenciar melhor as emoções e passar pela fase mais difícil dessa crise sanitária.
“Em outras palavras, não podemos falar em bem-estar quando grande parte do mundo enfrenta um processo de luto, mas podemos aprender a acolher e lidar melhor com essas emoções, cuidando assim para que as mesmas não se transformem em doença”, afirma.
Leite afirma que há uma percepção, por grande parte da população, de que a meditação consiste em “limpar a mente”, e que “ao se depararem com a dificuldade absurda que é chegar neste estágio”, acabam desistindo. Nesse sentido, ela afirma que uma possibilidade a ser considerada é a busca por uma “prática laica”, não ligada a nenhuma religião, como o mindfulness (“consciência plena”, em tradução livre).
“Mindfulness é mais do que meditação, apesar de utilizar a meditação para treinamento mental”, diz Leite. “É um treinamento da atenção e também do equilíbrio emocional. Hoje em dia, utilizamos a técnica de mindfulness associada com práticas da psicologia clínica, com excelentes resultados”, completa.
De acordo com um estudo de 2015 da Universidade John Hopkins, de Baltimore, nos Estados Unidos, programas de mindfulness de oito semanas têm evidências de auxílio na redução da ansiedade, depressão e dor. A pesquisa foi realizada a partir de uma revisão sistemática e meta-análise de 17.801 citações e 47 testes com 3.320 participantes sobre programas de meditação para redução de estresse e promoção de bem-estar.
“Apesar de não substituir o tratamento convencional, de psicoterapia e farmacológico, o treinamento de mindfulness acelera muito a melhora dos pacientes”, diz Leite.
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