De agro, bancos a varejo: mercado traça impacto de chuvas no RS para empresas da B3

Diversas companhias interromperam produções em unidades no RS temporariamente, enquanto mercado avalia impacto em safras

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As fortes chuvas que têm atingido o Rio Grande do Sul trazem números bastante dramáticos no que se configura o maior desastre natural da história do estado. Em um cenário de devastação e dezenas de mortes, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil assinou portaria em que reconhece o estado de calamidade pública em 336 municípios do estado. As consequências econômicas também são visíveis e também já levam a análises preliminares sobre o impacto para as empresas listadas em Bolsa, uma vez que o estado é um importante produtor agropecuarista e que também conta com importantes unidades de produção industrial de empresas listadas na B3.

Em relatório, o Goldman Sachs avaliou as implicações potenciais das inundações em curso no estado do Rio Grande do Sul para os frigoríficos brasileiros e aponta que a BRF (BRFS3), dona das marcas Sadia e Perdigão, estaria relativamente mais exposta no setor. O banco espera um impacto entre 25 pontos-base e 115 pontos-base do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) no resultado do segundo trimestre de 2024 (2T24), com base em precedentes históricos e com as informações que tem até o momento, dada a relevância da região no abate de suínos e na produção de soja.

O banco ressalta que o estado do Rio Grande do Sul tem um papel importante no agronegócio brasileiro. É responsável por, respectivamente, 17%/13%/5% do total de abates nacionais de carne suína/frango/bovina e por 15%/4% da área total plantada de soja/milho no país. A região também ocupa uma posição importante na produção de arroz, sendo responsável por 58% da produção nacional total (o arroz representa 5,1% do índice de inflação alimentar a domicílio). O arroz e a soja estão na fase final da colheita na região (com riscos que se estendem também aos volumes armazenados).

Dada a sua dependência de frango, carne suína e alimentos processados produzidos no Brasil, a BRF seria assim a empresa de proteína sob cobertura do banco com maior exposição ao estado, com 5 unidades operacionais (das 31 no Brasil), 6 centros de distribuição e pontos de trânsito (de 53 no Brasil), 2 fábricas de ração animal e 1 operação de pet food, além de utilizar o porto de Rio Grande (ao lado de outros 4) para chegar aos mercados internacionais. Como referência, durante a greve dos caminhoneiros no 2T18, a rentabilidade da BRF caiu para meio dígito (versus o esperado pelo Goldman de 11,0% em 2024), pressionada por uma combinação de perdas de estoques, menor produtividade e maiores despesas logísticas. Naquela época, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) estimou perdas totais de R$ 3,2 bilhões para todo o setor.

“Como a situação ainda persiste, acreditamos que avaliar potenciais perdas operacionais decorrentes de eventos atuais é um desafio. A BRF comentou que suspendeu temporariamente suas atividades operacionais em algumas unidades da região e atualmente está focada em apoiar seus funcionários, colaboradores e comunidades locais”, destaca o Goldman.

O Bradesco BBI também já havia pontuado eventuais implicações para o setor de agronegócio e alimentos, sendo que os prejuízos na zona rural só não são maiores porque o estado já colheu a maior parte das lavouras de soja, arroz e milho da temporada.

Para os analistas do banco, uma safra de soja menor que o esperado poderia pressionar os preços, levando a números financeiros mais altos para a produtora de grãos SLC (SLCE3). Ao mesmo tempo, os preços do arroz também deverão aumentar, mas a Camil (CAML3) historicamente defende sua margem de lucratividade repassando custos mais elevados, o que, por sua vez, provavelmente resultará em maior Ebitda nominal. Sobre o setor de proteína animal, o BBI também ressalta que frigoríficos de frango suspenderam as operações no estado devido a restrições logísticas, o que provavelmente reduzirá a oferta e resultará em preços mais elevados do frango no curto prazo.

O BBI também apontou que catástrofe no Rio Grande do Sul deve atrapalhar as operações de varejo nas próximas semanas na região. As empresas sob a cobertura do banco com maior exposição de lojas no estado são Lojas Quero Quero (LJQQ3; 54%), Carrefour Brasil (CRFB3; 11%) e Petz (PETZ3;6%).

“Estimamos que as seguintes empresas também tenham exposição ao estado, embora não divulgada com informações públicas: CVC (CVCB3), Natura&Co (NTCO3), Alpargatas (ALPA4), Grendene (GRND3), Vulcabras (VULC3), Arcos Dorados e Zamp (ZAMP3). “A Lojas Quero Quero deverá ser a empresa de maior impacto sob nossa cobertura devido à grande exposição das lojas e exposição à população rural do estado, que deverá ser afetada economicamente por esta tragédia”, avalia o banco.

O BBI ainda cita que a a CVC está disponibilizando suas mais de mil lojas espalhadas pelo Brasil para arrecadação de doações, com o objetivo de ajudar os desalojados afetados pela tragédia. Uma vez arrecadadas as doações, elas serão distribuídas por meio de parceria com Azul, Gol, Jamef Logística e Latam. A CVC acrescenta que os interessados em participar poderão entregar os itens em suas lojas de 6 a 12 de maio. Os itens aceitos são roupas, calçados, lençóis, cobertores e toalhas. “A CVC está utilizando seus recursos no setor de viagens para ajudar famílias afetadas pelas enchentes na região Sul do Brasil. Acreditamos que este ato beneficente deverá ter um impacto positivo na imagem da marca junto aos clientes”, pontuou.

Já entre os bancos, as principais instituições financeiras também adotaram várias iniciativas nos negócios para amenizar a situação de sofrimento na região, como pausa no pagamento e renegociação de dívidas, liberação do saque calamidade do FGTS, ações de auxílio para funcionários e familiares na região, abertura de agências para recebimento de doações e o reforço de orientações às equipes de seguros das instituições para o atendimento da população local também. “Em nossa opinião, a situação atual no estado do Rio Grande do Sul deve ter alguns impactos negativos sobre os bancos brasileiros, onde destacamos que Banrisul (BRSR6), ABC (ABCB4) e Banco do Brasil (BBAS3) enfrentam as maiores exposições à região sul do país”, avalia o Bradesco BBI.

Paralisações em plantas industriais

Cabe ressaltar que, além do agronegócio e varejo, empresas do setor industrial foram impactadas pelas fortes chuvas. No último dia 2, a Frasle Mobility (FRAS3), controlada pela Fras-le S.A., e a Randoncorp (RAPT4), da Randon Implementos e Participações, suspenderam algumas operações em decorrência do estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul.

A maioria de suas operações será retomada nesta segunda-feira e consideram o contexto e as condições nas cidades envolvidas, “respeitando e preservando os profissionais que estejam passando por dificuldades em suas moradias ou com familiares”, escreveram as companhias em comunicado.

A Marcopolo (POMO4) também informou no fim da semana passada que teve que interromper algumas operações (duas unidades em Caxias do Sul até domingo), mas que teria estoque suficiente para continuar normalmente com a produção, independentemente dos desafios logísticos relacionados ao clima, e espera apenas um leve impacto nos volumes do trimestre. Braskem (BRKM5), Gerdau (GGBR4) e WEG (WEGE3) também suspenderam as operações em algumas de suas unidades até o último domingo, avaliando as condições meteorológicas durante o fim de semana para decidirem sobre a retomada. Sobre a Braskem especificamente, a paralisação programada foi de algumas unidades do Pólo Petroquímico de Triunfo, responsável por 9,2% da capacidade total de produção da petroquímica, o que impacta a receita de R$ 1,5 bilhão por ano.

 

Fonte: InfoMoney

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