Fiocruz e Butantan: marcas do novo tempo
Como símbolos centenários são percebidos de uma nova maneira diante dos desafios da pandemia no País
O contexto histórico, em que vivemos com a pandemia da COVID-19, trouxe vários impactos para os negócios: desafiou o mercado de saúde e os meios de subsistência das comunidades ao redor do mundo. Novas tendências surgiram e as marcas ganharam um novo significado. “Tanto o Butantan como a Fiocruz sempre tiveram um papel crucial na vida dos brasileiros. O que faltava era um olhar apurado sobre sua importância social e econômica”, afirma Alexandre Mutran, mestre em comunicação e professor de pós-graduação na ESPM, em referência ao Instituto Butantan e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O momento histórico, aqui no Brasil, tratou de jogar luz sobre estas duas instituições que estavam ocultas aos olhos do grande público. Embora sejam centenárias e tenham papel fundamental para a política de saúde pública no Brasil, foi durante a crise sanitária que tanto o Butantan como a Fiocruz passaram a ser vistos, pela sociedade, de forma mais clara e percebidas como dois importantes símbolos da ciência nacional.
Segundo Alexandre Mutran, tudo isso nos ensinou muito. “São duas marcas de valor que reconquistam seu lugar de merecimento, em meio às novas demandas sociais. Às vezes, a novidade está no olhar sobre as coisas, e não no objeto ou ser visto”.
É possível perceber que, apesar da indiscutível relevância para a ciência brasileira, as duas instituições não estavam sob os holofotes e, portanto, deixavam de ser devidamente reconhecidas como marcas nacionais de excelência em ciência, uma vez que, popularmente, o Butantan era mais conhecido pela produção do soro antiofídico, enquanto a logo do castelinho da Fiocruz aparecia na grande imprensa quando o assunto era o combate à febre amarela, por exemplo.
O Instituto Butantan completa 120 anos neste ano de 2021. Nasceu de uma iniciativa do governo de São Paulo para combater a peste bubônica. Com o mesmo propósito, a Fiocruz foi criada em 1900 pelo governo fluminense. Até hoje, as tradicionais logomarcas de ambos praticamente não mudaram, o que dificilmente acontece com uma instituição.
Alexandre Mutran avalia que esta mudança significativa se deu, porém, na forma que enxergamos essas entidades nos dias atuais. “Hoje podemos perceber o quão mundialmente influentes elas são quando falamos em ciência. Graças ao momento atual e ao posicionamento das marcas do Butantan e Fiocruz na pandemia, conhecemos melhor o portfólio de produtos desenvolvidos e serviços prestados para a saúde pública”.
Além disso, toda a sociedade teve a oportunidade de saber mais sobre as instalações, processos e até o propósito e posicionamento diante da COVID-19. Se antes os serviços se sobrepuseram à marca, agora temos um marketing que expõe toda a credibilidade e consolida seus símbolos na memória.
Um grande aprendizado é o reconhecimento social de que muitos cientistas brasileiros trabalham nas melhores universidades do mundo, não apenas em pesquisas sobre o Covid-19, mas em várias áreas que praticam a ciência de ponta. Ou seja, essa “indústria” nacional exporta mão de obra de primeira linha. “Neste momento tão crucial para a vida, a ciência brasileira mostra o seu valor e o quanto estamos vocacionados, tanto pelo empenho científico como pela tradição de formar bons profissionais para a saúde pública”, completa Alexandre Mutran.
Outro excelente exemplo do marketing, como base para valorizar a pesquisa e o serviço de saúde pública nacional, é o desenvolvimento feito pelo Butantan, em parceria com o Instituto Mount Sinai de Nova York (EUA), da vacina Butanvac que deverá ser produzida integralmente aqui no Brasil. Isso no mostra o reforço da importância social na luta contra a doença.
Olhando para o futuro, provavelmente teremos um novo entendimento dessas instituições públicas, o que nos ajuda também a compreender e a cobrar investimentos, com o intuito de acelerar a inovação e estabelecer um novo padrão de relacionamento com a área científica do País com toda a sociedade.