O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) decidiu, mais uma vez, manter os juros básicos inalterados nos Estados Unidos nesta quarta-feira (12). Com isso, as taxas continuam em uma faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, e seguem no maior nível desde 2001.
A manutenção das taxas, como tem sido de praxe nos últimos encontros do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), já era esperada pelo mercado.
A ferramenta FedWatch do CME Group, por exemplo, apontava uma probabilidade de 99,9% de que o Fed deixasse os juros no mesmo patamar na reunião desta quarta-feira. As chances de um início do ciclo de corte das taxas só ficam maiores em setembro, com 61,3% prevendo uma redução.
Além disso, a decisão vem mesmo após dados mais brandos de inflação e atividade nos Estados Unidos.
Do lado de cá do hemisfério, o Brasil não pode tirar os olhos desse impasse nos EUA. Isso porque juros mais altos em um país desenvolvidos tornam os emergentes menos atrativos. E o aumento de risco interno, desde a mudança da meta fiscal, agrava a situação.
Entenda melhor abaixo.
Por que os juros nos Estados Unidos impactam o Brasil?
Apesar de a taxa básica dos Estados Unidos não ter uma relação direta com a Selic (taxa básica do Brasil), a manutenção dos juros em patamares elevados por parte do Fed afeta uma série de variáveis externas que podem, sim, influenciar a economia por aqui.
Um exemplo é o impacto desse cenário na alocação de recursos por parte dos investidores internacionais.
Quando os juros norte-americanos estão elevados, a rentabilidade dos Treasuries (títulos públicos dos EUA), os mais seguros do mundo, é maior. Assim, quem busca segurança e boa remuneração prioriza o investimento no país, e se afasta de países emergentes, como o Brasil.
Com o fluxo de dólares direcionado aos EUA, a taxa de câmbio piora por aqui — o que, por sua vez, pode complicar a inflação.
Nesse caso, a taxa de câmbio pode ter influência nos preços domésticos em diferentes frentes, como por meio da importação de produtos e insumos ou mesmo pela equiparação dos preços praticados no Brasil com o mercado internacional — ou seja, para que não faltem produtos no Brasil (principalmente os essenciais), o preço de itens produzidos no Brasil e exportados sobe internamente para acompanhar a variação do dólar.
Com inflação em alta, as chances de o Comitê de Política Monetária (Copom) reduzir o ritmo de cortes— ou até mesmo encerrar o ciclo de quedas da Selic — por aqui, também aumentam.
Na prática, isso significa que os juros ficam em patamares mais elevados, encarecendo o custo de dívida para empresas e consumidores e desacelerando a atividade econômica brasileira.
Quadro fiscal também tem impactos
Para além dos efeitos dos juros norte-americanos, a piora no quadro interno de riscos também pode afetar a economia brasileira.
Desde que o governo federal anunciou a mudança da meta fiscal para o próximo ano, houve uma piora na percepção fiscal do país — fator que também tem penalizado o real frente ao dólar nas últimas semanas.
Para 2025, o governo propôs uma meta fiscal zero — em vez de um superávit de 0,5% do PIB — e uma redução também para os próximos anos. A decisão acabou sendo encarada pelo mercado como uma derrota da equipe econômica, que chegou a defender inicialmente que a meta fosse alterada pelo menos para um superávit primário de 0,25% do PIB.
O mercado financeiro também entende que a decisão abre espaço para mais gastos e menor controle da dívida pública, o que demanda juros mais altos para que investidores estrangeiros considerem o país atraente.
Nesse cenário, a principal expectativa do mercado, agora, fica pela próxima reunião do Copom, prevista para a semana que vem. Mas mais do que a decisão em si, as atenções dos investidores devem ficar voltadas para as sinalizações sobre o futuro dos juros e, principalmente, para a divisão dos votos dentro do colegiado.
Fonte: G1