Como boas ideias são ignoradas numa economia construída para os homens

Katrine Marçal denuncia: Preconceito de gênero distorce e atrapalha o desenvolvimento da história humana

408

Tudo começa com uma mala de rodinhas. Embora a roda tenha sido inventada há cerca de cinco mil anos e a mala no século 19, foi só na década de 1970 que alguém juntou as duas invenções para criar um produto de sucesso. Qual o motivo da demora? A explicação, chocante, vem da escritora e jornalista Katrine Marçal: é que os “homens de verdade” carregavam suas malas, por mais pesadas que fossem, e não precisavam de auxílio.

Histórias como esta estão presentes em Mãe das invenções, uma análise reveladora do mundo dos negócios, da tecnologia e da inovação com um olhar sob a lente feminista. Não é só a mala. Dos carros elétricos às costureiras de sutiãs, passando pelos bilionários da tecnologia, Katrine mostra como o preconceito de gênero sufoca a economia e atrasa o processo de inovação, às vezes por centenas de anos, além de distorcer a compreensão sobre a história da humanidade.

A jornalista, especializada em mulheres e inovações, mostra como a noção do feminino e do masculino impactou e até ‘atrasou’ o desenvolvimento de produtos. Por exemplo: o carrinho de supermercado e a mala com rodinhas, que têm a mesma lógica; a primeira viagem a longa distância de automóvel, financiada e realizada por uma mulher; as roupas espaciais, feitas por uma fabricante de cinta liga, que precisou se associar a uma empresa de tecnologia militar; e a história da computação, que apagou a participação feminina. Ela lembra que as mulheres criaram os primeiros algoritmos e os homens só se envolveram com os computadores quando viram sua real importância.

“A invenção é uma forma de virilidade. É uma maneira de mostrar que você é um homem. E, por isso, as mulheres não podem ser inventoras. Essa é a ideia que temos em mente quando pensamos em invenção. E essa ideia tem consequências”, elucida, para depois defender que, propositalmente, as mulheres foram excluídas desta narrativa e que uma das consequências do patriarcado é “nos fazer esquecer de quem realmente somos”.

Nesses e outros exemplos, Katrine expõe como o preconceito de gênero tem retardado o progresso em diferentes setores e, com isso, prejudicado a economia. Ela destaca a importância das invenções associadas às mulheres, muitas vezes subvalorizadas e com dificuldade de acesso a financiamentos, apesar do potencial revolucionário e a capacidade de moldar o futuro do planeta.

Para aqueles que querem se aprofundar ainda mais sobre como o preconceito de gênero tem impactado a economia, Katrine também é autora da obra O lado invisível da economia, título lançado pela editora Alaúde. Nesta obra, a jornalista explora histórias reveladoras que revelam como a exclusão das mulheres da narrativa da inovação sufoca a economia, atrasa a e distorce a compreensão sobre a história da humanidade.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.