Nova variante, crise alimentar e ‘fungo preto’: a pandemia na Índia em 3 pontos
País se tornou o terceiro a superar a marca de 300 mil mortos, depois de Estados Unidos e Brasil. O descontrole da pandemia colaborou para o surgimento de novas variantes, para o crescimento de casos de um fungo raro e para uma crise alimentar.
A Índia se tornou o terceiro país a superar a marca de 300 mil mortes por Covid-19, depois de Estados Unidos e Brasil, em meio a uma agressiva segunda onda da pandemia.
A principal causa da tragédia indiana é a complacência do governo, que chegou a falar em “fase final da pandemia” em março, quando o país chegou a registrar menos de 10 mil infectados e 100 mortes por dia.
O descontrole da pandemia no país ajudou para o surgimento de uma nova variante, para o crescimento de casos de um fungo raro e que mutila pacientes com a Covid-19 e também está provocando uma crise alimentar.
Nova variante
A variante indiana B.1.617 foi registrada pela primeira vez na Índia em outubro do ano passado. Com a explosão de casos na Índia este ano e sua disseminação no Reino Unido, ela passou a preocupar o mundo somente em maio. Isso ocorreu porque provavelmente a variante se tornou mais transmissível após mutações sofridas durante as transmissões.
A análise genética revelou que essa variação apresenta mutações importantes nos genes que codificam a espícula, a proteína que fica na superfície do vírus e é responsável por se conectar aos receptores das células humanas e dar início à infecção.
Em linhas gerais, tudo indica que esses “aprimoramentos” genéticos melhoram a capacidade de transmissão do vírus e permitem que ele consiga invadir nosso organismo com mais facilidade.
‘Fungo preto’
Um fungo raro e agressivo que ‘mutila’ os pacientes de Covid-19 na Índia. Médicos indianos estão vendo o crescimento vertiginoso de casos de mucormicose, uma infecção provocada por fungos que já acometeu quase nove mil pacientes com Covid no país.
Segundo o infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho, professor da Universidade Federal do Paraná, existem três situações que facilitam o desenvolvimento da mucormicose: ter diabetes descontrolado, ser portador de doenças oncohematológicas (como a leucemia), que requerem transplante de medula óssea, ou fazer uso de altas doses de remédios da classe dos corticoides, que possuem ação anti-inflamatória.
“A Índia é um dos países com maior quantidade de diabéticos do mundo e vive atualmente um descontrole da pandemia de Covid-19, com um alto número de pacientes internados que necessitam tomar corticoides”, diz o médico, que também coordena o Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Para completar, em muitos locais mais afastados desse país, as condições sanitárias dos hospitais e das enfermarias não são as ideais, o que facilita o risco de contaminação por fungos.
Crise alimentar
A Índia tem hospitais lotados, baixos índices de vacinação contra a Covid-19 e problemas no acesso a benefícios sociais. Com o desemprego e a queda no rendimento mensal, famílias enfrentam crise alimentar.
O acesso a programas sociais no país é limitado: aproximadamente 100 milhões de indianos não tem o cartão do governo para o auxílio alimentar. Segundo analistas, isso trará um aumento de desnutrição entre a população mais pobre.
“Existe uma crise sanitária, mas também uma crise de renda. Muitos tiveram de gastar as economias de toda a vida para pagar pelos cuidados de seus familiares”, explica Anjali Bhardwaj, da organização Right to Food Campaign (Campanha para o Direito à Comida).
Em 2020, quase 230 milhões de indianos passaram a viver com menos de 375 rúpias (equivalente a cinco dólares) por dia, segundo um estudo da Universidade Azim Premji de Bangalore.