Ensaios clínicos realizados nos Estados Unidos sugerem que as vacinas contra o coronavírus são ligeiramente menos eficazes entre as mulheres do que entre os homens. Um relatório do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) observou que 63% dos casos de infecções após tomar as duas doses da vacina aconteceram em pacientes do sexo feminino.
Vacina em Mulheres
De maneira geral, casos de Covid-19 diagnosticados em pessoas totalmente vacinadas após pelo menos duas semanas são raros: apenas 0,01% das 101 milhões de pessoas nos Estados Unidos foram totalmente vacinadas contra o coronavírus desenvolveram infecções invasivas até 30 de abril. Das 10.262 diagnosticadas, 6.446 (63%) ocorreram em mulheres, e a idade média das pacientes foi de 58 anos.
Com base em dados preliminares, 27% das infecções causadas após os pacientes tomarem a vacina eram assintomáticas, 10% foram hospitalizados e 2% morreram. Entre os 995 pacientes hospitalizados, 29% eram assintomáticos ou hospitalizados por um motivo não relacionado a Covid-19. A idade média dos pacientes que morreram foi de 82 anos, e 18% falecidos eram assintomáticos ou morreram de uma causa não relacionada ao coronavírus.
Em 5% dos casos notificados foi possível identificar as variantes do vírus: 56% eram B.1.1.7 (a chamada variante do Reino Unido), 25% eram B.1.429, 8% eram P.1 (variante brasileira do coronavírus) e 4% eram B.1.351 (variante sul-africana).
Esses dados são consistentes com os ensaios clínicos já realizados. A vacina da Pfizer apresentou uma taxa de eficácia de 96,4% em homens, mas 93,7% em mulheres. Sua taxa geral de eficácia é de 95%, uma média desses dois resultados. A vacina da Moderna, por sua vez, apresentou uma taxa de eficácia de 95,4% em homens, mas 93,1% em mulheres. E a injeção da Johnson & Johnson reduziu o risco de Covid-19 moderado a grave em 68,8% nos homens, mas 63,4% nas mulheres.
O CDC aponta, ainda, que as conclusões do relatório estão sujeitas a pelo menos duas limitações: o número de casos provavelmente está subnotificado e os dados da sequência SARS-CoV-2 estão disponíveis apenas para uma pequena proporção dos casos relatados. “Muitas pessoas com infecções, especialmente aquelas que são assintomáticas ou que apresentam doença leve, podem não procurar o teste”, explica o órgão.
Algumas explicações possíveis
Normalmente, mulheres apresentam respostas imunológicas mais fortes às vacinas do que os homens, uma vez que níveis mais elevados de estrogênio estimulam o sistema imunológico. Cientistas, porém, suspeitam que as variantes do coronavírus podem ter impactado a taxa de eficácia da vacina.
Para Sabra Klein, codiretora do Centro Johns Hopkins para Saúde Feminina, Sexo e Pesquisa de Gênero, é possível que as vacinas sejam mais eficazes para ajudar o corpo para reconhecer o coronavírus original identificado em Wuhan, porém menos efetivas contra suas variantes – e isso se reflita especialmente entre as mulheres.
“Toda a base da vacinação é ter algumas células de memória para que, caso você seja infectado com o vírus, se for mesmo possível, você fique assintomático em vez de sintomático porque seu sistema imunológico já foi treinado”, explica Klein. “Portanto, pode ser que parte desse treinamento e a especificidade desse treinamento sejam maiores para mulheres do que para homens”, completa, em entrevista à Business Insider.
Outra possibilidade é o fato de que mais mulheres do que homens foram vacinadas nos Estados Unidos até agora, e as mulheres podem estar mais inclinadas a procurar testes Covid-19 ou relatar sua doença se estiverem apresentando sintomas. As mulheres também representam a maioria dos profissionais de saúde, que são regularmente testados para infecções por coronavírus no trabalho.
“As diferenças biológicas entre homens e mulheres e como isso poderia estar acontecendo em resposta a essas vacinas são dados que não receberam a atenção adequada”, avalia Klein. “Definitivamente, não acho que esse tipo de coisa deva ser descartada – e isso é o que costuma acontecer porque é mais fácil pensar que isso é preconceito do que algo real”, completa.
Fonte: Olhar Digital