Impactos da adoção do Pix Cobrança precisam ser mensurados nos processos operacionais das instituições

Bruno Segatto

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Ao completar seis meses desde o seu lançamento, não resta dúvida de
que o Pix já faz parte do dia a dia dos brasileiros. Segundo o Banco
Central, no dia 16 de maio, data da comemoração de seu primeiro
semestre de existência, a ferramenta contava com mais de 242  milhões
de chaves cadastradas, sendo 83 milhões de usuários pessoas físicas e
mais de 5,5 milhões de empresas. O BC estima que aproximadamente 75
milhões de brasileiros já usaram o Pix para pagar ou receber, o que
significa 45% da população adulta do país.

Mesmo estes números superlativos, representam apenas o começo da
jornada de um instrumento de pagamento que deve ser ainda mais
representativo, já que uma lista de outras funcionalidades já tem data
marcada para entrar em funcionamento e atrair ainda mais pessoas e
empresas para o mundo dos pagamentos instantâneos.

Quando avaliamos com mais profundidade o Pix Cobrança por exemplo, que
por característica tem um funcionamento muito similar ao de um boleto
– a partir de 1º de julho todos os participantes do Pix precisam ser
capazes de fazer a leitura do QR Code e possibilitar o pagamento para
data futura – existem aspectos envolvidos na adoção desse mecanismo
que precisam ser avaliados pelas empresas para, por um lado, aproveitar
ao máximo sua potencialidade, e por outro lado, evitar problemas
decorrentes de um descompasso entre a velocidade do Pix e um ritmo
eventualmente mais lento das estruturas e processos de atendimento ao
consumidor.

Só para exemplificar, basta analisar a situação de uma distribuidora
de energia elétrica. Imaginando que a ordem para cortar o fornecimento
de luz de uma residência por inadimplência tenha sido dada e no meio
do caminho aquele débito tenha sido quitado com uso do Pix. Legalmente,
aquela falta de pagamento deixa de existir imediatamente, mas se o
funcionário responsável pelo corte não tiver acesso a essa
informação, o serviço será executado, e o consumidor prejudicado
indevidamente.

Quanto isso pode custar em termos de processos judiciais e arranhões na
imagem da empresa? Para evitar que estes prejuízos aconteçam, é
fundamental que os  pagamentos via Pix sejam atualizados e
disponibilizados instantaneamente ao time operacional.

O mesmo tipo de cuidado deve ser aplicado em operações de crédito.
Com o Pix, o score dos tomadores de empréstimos e financiamentos se
tornará muito mais  dinâmico podendo se transformar rapidamente dentro
do mesmo dia. Pela manhã a pessoa pode constar com uma pendência e no
meio do dia isto não ser mais uma verdade. Para decisões mais
assertivas e um processo mais fluido, as ferramentas de análise de
crédito deverão também contar com atualizações on-line dos
recebimentos via Pix.

Outra situação que merece atenção é que, como o Pix permite
pagamentos em finais de semana e feriados, estes recursos, que antes
eram contabilizados apenas em dias úteis, agora passam a ficar
disponíveis na conta das empresas imediatamente. Desta forma, para não
deixar de rentabilizar esse dinheiro, as organizações precisam se
preparar e prever a aplicação dos recursos originados pelo Pix
creditados em dias e horários não úteis.

Estes são apenas alguns exemplos que deixam clara a necessidade de
ajustes em rotinas (sistêmicas ou não), as quais se iniciam sob o
prisma financeiro, mas que podem repercutir em tesouraria,
contabilidade, impostos, crédito e operações.

E isto, pelos números apresentados no início deste texto, deve ser
feito na velocidade do Pix. Caso contrário, os problemas ou a perda de
recursos podem chegar primeiro e em grande proporção.

*Bruno Segatto é cofundador da Xsfera, plataforma de serviços
especializados de consultoria de negócios e regulatória, focada no
mercado financeiro e de pagamentos.

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